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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

BRASIL; ANO CONTURBADO, MAS DECISIVO PARA SUPERAR O RADICALISMO

Por ipuemfoco   Postado  terça-feira, janeiro 11, 2022   Sem Comentários

 


As eleições presidenciais de 2022 representam uma oportunidade para o País superar o populismo que colocou a economia em uma encruzilhada. 


Mas o centro ainda precisa se unir e acertar sua estratégia contra a polarização. Apesar de a Justiça estar mais preparada para combater as milícias digitais, o pleito ainda será marcado por tensão.

Perspectiva 2022/ Brasil

Depois de anos de polarização política, que explodiu com o colapso dos 13 anos de governo petista, e de uma crise econômica que jogou o País na maior recessão da história (ainda não plenamente superada), o País vai às urnas este ano com a possibilidade de superar o radicalismo. Ao contrário de 2018, o eleitor agora estará mais atento à experiência dos candidatos. 


Haverá mais espaço para a política tradicional e menos chances para outsiders. O desenho da disputa marcada para 2 de outubro já está praticamente definido. Bolsonaro concorrerá pela direita, orientado pelo mesmo discurso extremista que o elegeu e diante do desafio de contornar o desgaste que sua própria imagem vem sofrendo, fruto de um mandato irresponsável e repleto de erros do começo ao fim. 


Ameaçado, o mandatário pode se tornar o primeiro candidato à reeleição a perder a cadeira. E, para que isso não ocorra, está disposto a fazer o que for preciso. Vai acelerar o uso da máquina pública para irrigar os cofres de aliados, principalmente por meio do orçamento secreto, e distribuirá benefícios eleitoreiros.


A esquerda, por outro lado, conta novamente com Lula para retomar o poder. Após ser preso por corrupção, o petista volta à cena política tendo pela frente dois adversários antigos: Moro, responsável pela sua prisão, além, é claro, do próprio capitão. 


Fora isso, precisará contornar o antipetismo que se agravou no País após o escândalo do Petrolão e que atingiu em cheio não só o ex-presidente, como também seu partido. No campo esquerdista, Lula só conta com a sombra de seu ex-ministro Ciro Gomes, que disputará pela quarta vez e até agora mantém sua pré-candidatura pelo PDT, mesmo sem empolgar nas pesquisas.


Por enquanto, as pesquisas ainda dão ampla vantagem para Lula, seguido de Bolsonaro, mas o cenário deve evoluir. O petista ainda não sofre a crítica dos adversários e surfa na anulação dos seus processos, que tenta ostentar como uma absolvição. Quando a disputa esquentar, a partir de abril, as campanhas vão explorar o antibolsonarismo e o antipetismo, e isso pode abrir espaço para o centro. 


“Vai ser uma eleição bastante acirrada, principalmente pensando que vai ser aquela em que o presidente em exercício é o que tem menos chance de se reeleger entre todas as disputas até aqui”, avalia Glauco Peres, professor de Ciência Política da USP. “Isso acontece porque não há dois candidatos óbvios favoritos para o segundo turno. Das eleições recentes, essa é aquela em que o terceiro candidato tem mais chance de ir para um segundo turno do que em todas as anteriores.”

POPULISMO O presidente Jair Bolsonaro posa com populares em Esteio (RS) (Crédito:Alan Santos/PR)

Peres considera que o fortalecimento do nome da terceira via depende também do fracasso dos programas que Bolsonaro lançar nesse período, enquanto estiver em campanha. A principal aposta do chefe do Executivo é o Auxílio Brasil. 


Além disso, investe em empréstimos massivos com dinheiro da CEF e terá um cronograma recheado de inaugurações pelo País. “Tirar Bolsonaro do segundo turno demanda tirar a capacidade do governo de fazer votos”, diz Peres. Assim como também pesará a péssima situação econômica do País, com alta da inflação, aumento do desemprego e perspectiva de recessão. 


“A economia vai mal. O governo vai ser penalizado por isso. Bolsonaro vai perder apoio, e uma terceira via teria como avançar em cima desse eleitorado. Mas só se usar a estratégia correta na campanha”, pontua Fernando Guarnieri, professor de Ciência Política da UERJ. Também pesa contra o presidente sua atuação temerária na pandemia, quando utilizou a estrutura de Estado para difundir mentiras.


Hoje, Moro leva vantagem sobre os outros pré-candidatos do centro. O ex-juiz abriu frentes de diálogo na tentativa de convencer os demais partidos de que a sua candidatura é a que mais tem chances de derrotar Lula e Bolsonaro. Já se reuniu algumas vezes com Doria, num movimento visto em Brasília como um sinal de que ambos caminharão juntos em algum momento. 


“Como Moro deu a largada ao se filiar ao Podemos e anunciar sua candidatura, ele acabou ocupando o espaço da terceira via. Mas, pelo que ouvi, Doria e Moro vão se juntar”, confidenciou um influente dirigente partidário. Há dúvidas se o ex-ministro da Justiça se manterá na atual posição. Para sua campanha ganhar capilaridade e ter um naco considerável do Fundo Eleitoral, Moro já tenta se unir ao União Brasil — legenda que surgiu da fusão entre DEM e o PSL. 


Com a junção das duas siglas, o União Brasil passou a comandar a maior fatia desse fundo. Queria ter um candidato próprio nas eleições, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, mas caminha para apoiar Moro, possivelmente indicando Luciano Bivar (presidente da legenda) para vice.


O governador de São Paulo, João Doria, deixou para esse início de ano suas primeiras viagens como candidato do PSDB. Aposta que a partir daí conseguirá maior visibilidade nacional, exibindo as realizações em São Paulo, que teve um crescimento maior do que o País na pandemia. 


Também conta com avanços importantes para o País, como a viabilização da vacinação nacional há um ano, o que forçou Bolsonaro a acelerar a compra de imunizantes. Por ocupar a posição de maior antagonista do presidente nos últimos anos, e ser um adversário histórico de Lula, Doria avalia que conseguirá atrair os eleitores insatisfeitos com os dois polos.


Correm por fora outros três pré-candidatos: Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania), todos com pouca força nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até aqui. Dificilmente conseguirão entrar no primeiro pelotão, apesar da torcida nos seus partidos. 


“Espero que a eleição não seja maniqueísta. Nomes como Simone e Rodrigo, novidades em meio a outros já consolidados, ajudam a arejar um pouco o ambiente e dão mais condição para o eleitor observar melhor as coisas na hora de votar”, diz o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB). Mas o caminho não será fácil. Seu partido lançou a pré-candidatura de Tebet a despeito de muitos caciques terem ficado contrariados.

CASAMENTO Lula abraça seu possível vice, o ex-tucano Geraldo Alckmin (Crédito:Divulgação)

Até agora, ninguém do campo de centro sinalizou que estaria disposto a abrir mão da própria candidatura em nome de um projeto maior. Apenas o senador Alessandro Vieira admitiu, em entrevista recente, que pode desistir. 


“É de se imaginar que várias candidaturas murchem à medida que um nome comece a mostrar que tem mais chance para vencer Bolsonaro ou Lula no segundo turno”, afirma Peres. Para ele, Moro e Doria figuram como favoritos a capitanear a terceira via. Ele prevê que, em algum momento, ambos formarão uma aliança para fortalecer o projeto e aumentar as chances de segundo turno. “A terceira via, na prática, passa por problemas semelhantes aos da esquerda. Também precisa montar a sua própria frente ampla”, afirmou um emedebista.


No campo esquerdista, desde que Lula vislumbrou a possibilidade de se candidatar, muitos parlamentares passaram a defender a ideia da formação de uma frente ampla, sob o argumento de romper a bolha da esquerda e atrair votos que pudessem ser direcionados a um representante de centro. 


É essa estratégia que levou o PT à aproximação com Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB e abraçou essa proposta. Por enquanto, ela só serviu para fragilizar os tucanos e fortalecer Lula. A esquerda aplaudiu a manobra. “Estou nisso desde o início. Concordo muito com essa aliança, representa um maior diálogo com o centro”, afirmou o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ).


O pleito será uma oportunidade importante para fortalecer o debate de propostas, deixando em segundo plano a as pautas ideológicas e de costumes. Mas espera-se que ocorra novamente o jogo sujo que marcou a última corrida presidencial. Passados quatro anos, os quase 150 milhões de eleitores deverão reviver parcialmente um ambiente ainda contaminado pela difusão de mentiras. 


“Serão as mais sujas e sórdidas campanhas eleitorais da história do País”, prevê Doria. “Extremistas gostam disso: de intimidar, de emparedar, mentir, construir narrativas falsas.” Foi graças a essa prática que Bolsonaro conseguiu triunfar em 2018. Por isso, o presidente ainda é investigado no Supremo no inquérito das fake news, sob suspeita de participar de um esquema de financiamento de robôs para divulgação de notícias falsas durante a última eleição.

EMBATE Ciro Gomes em 2018: este ano ele fará sua quarta campanha (Crédito:Mateus Bonomi )

Com o objetivo de evitar que isso se repita, o ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável por vários processos contra Bolsonaro na Corte, já fez uma advertência. O próximo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disse que vai punir severamente políticos que dispararem fake news. 


“Essas milícias digitais continuam se preparando para disseminar ódio, conspiração, medo, para influenciar eleições e destruir a democracia”, afirmou Moraes, que assume o comando do TSE em setembro. “Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado. E as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia.”


O TSE tem tomado medidas a fim de endurecer as punições. Em dezembro, o tribunal aprovou uma resolução que vai penalizar quem espalhar mentiras contra candidatos com ordens de prisão. As penas podem chegar até a quatros anos de detenção. 


“Já sabemos como são os mecanismos, quais são as provas que devem ser obtidas e como. E não vamos admitir que essas milícias digitais tentem novamente desestabilizar o pleito a partir de financiamentos espúrios não declarados”, asseverou o futuro presidente do TSE.


Segundo alguns especialistas ouvidos pela ISTOÉ, o endurecimento das regras pela Justiça Eleitoral vai nivelar as candidaturas e impedir que Bolsonaro tire proveito dos robôs que o ajudaram em 2018. 


“O sucesso de Bolsonaro nas últimas eleições ocorreu porque ele usou uma estratégia que ninguém tinha visto. Todo mundo tomou bola nas costas, o presidente usou brilhantemente aquele meio que não recebia atenção de ninguém. No ano que vem, esse elemento surpresa não vai existir mais para ninguém”, avalia Guarnieri.


Já para outros analistas, as medidas anunciadas pelo TSE não serão suficientes para impedir a repetição do fenômeno da desinformação. “As eleições serão tensas e ainda trarão, provavelmente de forma mais intensificada, muito do último pleito: discurso de ódio, disparo em massa e fake news, que são contrários à base democrática que deve encampar qualquer processo eleitoral”, pontua Juliana Freitas, professora de Direito Eleitoral do Centro Universitário do Pará (Cesupa). 


Este ano vai ser selvageria. É impossível controlar esse tipo de coisa. No fim das contas, todo mundo vai continuar tendo WhatsApp. Sem falar que fake news é um conceito muito aberto. Para alguns, pode ser mentira, enquanto para outros, não”, avalia um advogado que pediu anonimato pois vai atuar na campanha de um dos candidatos.

CANDIDATO O ex-juiz Sergio Moro em visita ao Congresso, em 2019 (Crédito:Adriano Machado)

Algumas novidades podem ajudar a melhorar a qualidade do novo Congresso. A introdução das federações partidárias exige coerência programática e une os partidos por quatro anos em todos os estados, diminuindo os acordos espúrios, apesar de reeditar na prática as velhas coligações. 


Haverá mais diversidade no Congresso, já que negros e mulheres terão maior representação no cálculo do coeficiente eleitoral e receberão mais verbas. Essas mudanças são bem-vindas. Mas certamente não serão suficientes. Com o fundão eleitoral de R$ 4,9 bilhões, os partidos terão recursos públicos abundantes, em escala inédita. Espera-se que o próximo pleito volte a ser o da política habitual, mas que não seja também o da velha política.

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