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quinta-feira, 1 de abril de 2021

O AUTO GOLPE DE UM CAPITÃO

Por ipuemfoco   Postado  quinta-feira, abril 01, 2021   Sem Comentários



O golpismo está no ar. Sorrateiramente, em tática de guerra, esgueirando-se no campo minado de pressões ao seu governo, com rearranjo abrupto de tropa e montando

estratégias de emboscada que nada sinalizam de corriqueiras, o capitão prepara-se para a sua batalha particular. Está maquinando loucuras inimagináveis no bunker do Planalto. 


Queria o alinhamento incondicional das Forças Armadas a seus desígnios e deliberações – por mais fora do comum, antidemocráticos, inconstitucionais e intervencionistas que fossem os tais desígnios. Desejava impor na seara das FFAA o que tratou de fazer na Polícia Federal: a manipulação de quadros, o controle das ações e o uso indevido do aparato para interesse próprio; um aval (quem sabe!) a regimes extraordinários ou de exceção que ambicionava implantar, no qual pontificasse, em triunfo, como um ditador fora de época. 


O caudilho brasileiro está acuado e almeja resgatar o controle na base da força. Estupidez absoluta e mentalidade de autocrata movem o capitão rumo à disruptura, sugerindo ameaça às instituições. Ir contra o Supremo? Ir contra governadores? Quiçá, contra todos aqueles que estiverem no caminho é o plano inequívoco no recôndito d’alma de Messias. Em plena semana de aniversário do golpe militar de 64 procurou dar um recado direto sobre os anseios que acalenta. 


A quartelada consagraria a alternativa mais simples de garantia de poder. Não conseguiu. No festim diabólico, incitando a algazarra administrativa, encurralou o ministro da Defesa. Impeli-o à demissão, à renúncia do cargo, à saída humilhante. Queria antes a degola do general Pujol do comando do Exército. Não teve. Na resistência encontrada, encarou uma espécie de levante militar. Pela democracia. Pelo Estado de Direito. 


Comandantes de quatro costados reuniram-se, insatisfeitos, para uma tomada de posição única, linear. Repudiavam a politização das Forças e o enquadramento deliberado com o intuito de engajá-las em aventuras arbitrárias do mandatário. No topo da hierarquia militar, o preparo, o equilíbrio, o senso de dever para com a estabilidade e o respeito à Carta Magna viraram princípios basilares de comportamento. 


Há muito tempo. A diferença, nesse plano de entendimento com Messias, entrou na ordem do dia. Até militares perderam a paciência e demonstram não aguentar mais tanta insolência. Veio a troca dos chefes das três Forças. Permanece a indignação na caserna. O capitão do Planalto não sabe fazer nada além de humilhar subordinados de farda em uma relação, desde o início, conturbada. Limou inúmeros deles por contrariarem as veleidades de suas determinações sem fundamento. 


O quatro estrelas sainte, Fernando Azevedo, foi impelido, inclusive, a sobrevoar de helicóptero uma mobilização bolsonarista, ao lado do presidente, como a apoiar os manifestantes. Suprema humilhação. Entre boa parte dos fardados o desconforto atingiu o auge, dias atrás, com a até então derradeira baixa do general Pazuello, fritado no óleo ardente de uma pandemia que não soube combater. De especialista em logística, Pazuello saiu do Ministério da Saúde bem menor que entrou. 


E, dali por diante, seguiram pairando no ar recados de tempos sombrios. O inquilino do Planalto fala agora em “consequências imprevisíveis”, em “Estado de Sítio”, no “caos a caminho”, arrefecendo a crise. Nas pregações recentes disse que “meu Exército” iria agir contra lockdowns, restabelecer a ordem, no lombo de rumores do autogolpe. 


Atente para o peso absurdo e inconsequente dos avisos desse capitão, feitos em meio à claque de populares simpatizantes, há alguns dias: “será que o governo federal vai ter de tomar uma decisão antes do pior acontecer?” e, de novo, “será que a população está preparada para uma ação do governo federal dura?”. 


Bolsonaro, não há dúvida, tenta assenhorar o controle das rédeas na base da porradaria sem limites. O demissionário da Defesa, general Azevedo, caiu de alguma forma atirando contra isso. Deixou um recado claro e eloquente na carta de despedida, sugerindo não transgredir regras por vontades superiores: “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Perfeito na assertiva. 


Agiu na mais absoluta legalidade, dentro do esperado fundamento democrático, dado que forças de Estado não podem ser confundidas com forças de governo ou de um presidente. Jair Messias Bolsonaro encena a epopeia de um governo em queda. Por erros próprios. Enfraquecido, desacreditado, praticamente tutelado. 


Capitula em um espetáculo degradante assistido em praça pública. Não lhe resta mais nada, quase apoio algum, salvo aqueles angariados em troca de caraminguás para emendas e postos na máquina federal.


Dos generais escuta repúdio a radicalizações. Há, de todo modo, evidências de que emanarão novos impropérios e delírios desse mito, na medida em que se sinta ainda mais acuado. No episódio recente da morte de um soldado da Polícia Militar, no Farol da Barra, em Salvador-Bahia, após esse atirar contra colegas de farda, em aparente surto psicótico, falanges de apoiadores do mandatário tentaram capitalizar o evento como a sugerir um motim. 


Quase (no paralelo histórico) uma reedição do tenentismo de início do século passado, por vias ainda mais tortas. Bolsonaro, em pessoa, trata de espalhar dúvidas no ar, para fomentar incertezas na caserna. Diz contar com a aberta simpatia de “soldados, cabos e sargentos” e pede “demonstrações de apreço” dos generais. Na linha de confronto, não teme jogar uns contra os outros. Difícil sair-se bem-sucedido na empreitada. 


Ninguém mais deseja ser sócio de um golpe. Não a essa altura do campeonato. Não em um País com a estatura do Brasil. Não em dissonância com tudo o que acontece no mundo globalizado de hoje. Apenas mentes desajustadas, corroídas pela ambição doentia e o despreparo, imaginam tamanho despautério. Deveriam bater em retirada ou serem impedidas de continuar, diante da evidência de não contarem com os tanques. 


Deixaram de ser triviais as platitudes desse escalpo de mito insepulto. Golpista notório, está diante da incapacidade de promover o intento. Militares não querem, de novo, terminar outra página da história com a reputação manchada, queimados como ocorreu após o longo interregno do golpe de 64. A renúncia coletiva de chefes das Forças Armadas já configurou em si fato inédito na existência da República e fornece a exata ideia da tensão em andamento ali. 




O Planalto quis dar à saída caráter de normalidade, embora saiba não ser. O Supremo Tribunal Federal, temeroso dosimpulsos do capitão, tratou de buscar informações junto ao general Azevedo e ouviu dele, claramente, que Exército, Marinha e Aeronáutica não irão se inclinar ao autoritarismo. Menos mal. 


Esses estão definitivamente comprometidos com a democracia e a Constituição, algo que o presidente, embora tenha prometido obediência e zelo a seus preceitos, parece ter esquecido ou, deliberadamente, abandonado. Na toada que vai, o bolsonarismo caminha para os seus estertores e eis aí o verdadeiro autogolpe.CARLOS JOSÉ MARQUES

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