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sábado, 28 de setembro de 2019

A PRIMEIRA DAMA DOS DOLEIROS

Por ipuemfoco   Postado  sábado, setembro 28, 2019   Sem Comentários


Livre de culpa e com alegria contagiante, a primeira presa da Operação Lava Jato, Nelma Kodama, reflete sobre os tempos de prisão e tenta reconstruir a vida endividada e sem tornozeleira.

Vestida da cabeça aos pés com roupas e acessórios de sua marca preferida, Chanel, a ex-doleira Nelma Kodama aguardava pela conversa em um café reservado no Shopping JK Iguatemi, recôncavo dos endinheirados paulistanos. 

De charme e elegância ímpares, Kodama também se alia à determinação e fidelidade: presa por três meses na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, sob condições às quais “até o Papa delataria algo”, ela se manteve firme e não delatou o então amado amante Alberto Youssef — a intenção da PF era arrancar essa delação desde o começo. 

Mas ela não se esqueceu do pacto de sangue firmado entre o casal: se algum dia alguém caísse que fosse ela. Do outro lado, para a sua decepção, a fidelidade não se manteve. Ao fazer o acordo de delação premiada, Youssef tinha o poder de negociar benesses para a ex-doleira, mas não o fez. 

“Seja por pressão ou por ser um canalha. Prefiro a primeira opção”, diz. “Me engana que eu gosto, só pega na minha bolsa quem eu deixo. Gostou?”

Conhecida no mercado cambial como a dama dos doleiros por sua inteligência e perspicácia, sua casa caiu em outubro de 2014. Foi condenada pelo então juiz Sergio Moro a catorze anos e nove meses de prisão por lavagem de dinheiro, organização criminosa, evasão de divisas e corrupção ativa. 

Na PF, cada vez que tinha uma operação, chegavam mais presos. Ela se lembra quando Marcelo Odebrecht chegou na cadeia e disse que se não fosse liberado em até três dias, poderiam preparar uma cela para o Lula. Odebrecht não saiu, ficou lá “queimando chão como eu”. “Quando se entra ali, minha amiga, pode ser quem for, você está presa, fim de linha. Você não é diferente do traficante”, explica.

De sua sentença, que considera injusta, cumpriu aproximadamente um terço e agora vive em liberdade. Sua dívida com a Justiça, no entanto, permanece estratosférica: R$ 100 milhões. Se, como doleira, chegou a movimentar cerca de R$ 25 milhões em um único dia, vive hoje com R$ 5 mil mensais provenientes de aluguel de quartos em um hotel. 

Para começar a quitar seus débitos, pretende fazer um bazar de objetos de luxo, desde sapatos e joias até lustres. Apesar da necessidade de se desfazer de praticamente tudo que possui, Kodama estampa um sorriso fácil no rosto e demonstra dar pouca importância para os objetos caros que carrega consigo. “É bom ter? Lógico”, declara. Mas jura que se tiver de trocar o colar, a bolsa, o vestido e a bota Chanel por roupas mais simples, será feliz do mesmo jeito.

Questionada se há arrependimento e sentimento de culpa, ela diz que não adianta se arrepender do que não se pode mudar. “Qual foi o meu crime? Comprar e vender dólar, praticar sonegação fiscal. Não roubei o dinheiro da merenda. Tudo que eu adquiri foi com o meu trabalho, cerca de 16 horas por dia”, afirma. 

Para a ex-doleira, enquanto não houver uma reforma tributária, crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, que a condenaram, continuarão a acontecer. “Ou você acha mesmo que porque teve a Lava Jato isso não existe mais? O problema é a corrupção sistêmica”, desabafa.

História verdadeira

Quando saiu de sua casa, na cidade de Lins, interior paulista, para morar em São Paulo, pegou as suas coisas, colocou no carrro e foi se distanciando da cidade enquanto caía o pôr do sol. Conforme dirigia, as luzes das casas iam se apequenando. “Era como se eu estivesse me desprendendo de tudo o que era conhecido”, lembra. Se morresse hoje, Nelma Kodama morreria feliz, como ela mesma disse. 

Teve de tudo, comprou tudo o que queria e chegou ao topo da profissão enquanto doleira. Mais do que isso, só se fosse banqueira, o que nunca esteve em seus planos. 

Com a sua liberdade em mãos e R$ 100 milhões em dívida, a ex-doleira recomeça sua vida todos os dias, e propõe, por meio desta reportagem, uma parceria com José Padilha para uma produção audiovisual que se atente aos fatos da Operação Lava Jato. 

Ela acha que foi mal representada na série. “Minha sobrinha, criança, chegou a me questionar se eu era cafetina”, lamenta Nelma. “Quero contar minha verdadeira história”.ISTOÉ

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