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sábado, 6 de abril de 2019

POLÍTICA; FLAMENGO VIRA PRIORIDADE

Por ipuemfoco   Postado  sábado, abril 06, 2019   Sem Comentários


Famoso por rasgar a placa com o nome de Marielle Franco, vereadora assassinada no ano passado, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) tem usado sua paixão pelo Flamengo para se notabilizar. 

Depois de ter passeado no gramado do Maracanã durante a conquista do rubro-negro na Taça Rio, o legislador fluminense foi às redes sociais nesta sexta-feira 5 para agradecer uma camisa oficial do time que lhe foi presenteada. Não disse, porém, quem lhe ofertou o uniforme.

É a culminação de uma semana marcada por uma nota oficial publicada pelo Flamengo, em que o clube negou ter qualquer participação no evento que celebrou a memória de Stuart Angel Jones, ex-remador rubro-negro, irmão da jornalista Hildegard Angel e um vítima da repressão da ditadura em 1971.

“(...) O Clube de Regatas do Flamengo esclarece que, por ser uma verdadeira Nação, formada por mais de 42 milhões de torcedores das mais diversas crenças e opiniões, não se posiciona sobre assuntos políticos.

A homenagem citada na nota foi realizada diretamente por um grupo de sócios e torcedores do Clube, sem nenhuma participação da instituição — algo que, inclusive, é estatutariamente vedado.”

A nota causou surpresa e indignação, porque relembrar Stuart Angel não é um posicionamento político. É algo que o clube já havia feito em um memorial erguido na sede naútica. Mas a atual diretoria do Flamengo, pelo visto, precisa acenar para os ocupantes do poder público a fim de acelerar seus projetos de dominação esportiva. Em troca, oferece popularidade e gratidão dos 42 milhões de torcedores, uma força política nada desprezível.

Uma velha tradição política do Rio foi resgatada quando, em janeiro, o corintiano Wilson Witzel surgiu no Maracanã vestindo vermelho e preto, num jogo de primeira rodada do Estadual. Eleito, mas ainda pouco conhecido, o candidato que surfara o swell bolsonarista tirou o imponente terno de juiz federal para se tornar "gente como a gente", à caça de selfies com os rubro-negros à beira do gramado. 

O futebol, por sua popularidade, se tornava parte de um tripé de políticas prioritárias para Witzel, ao lado do combate ao crime e do repúdio à esquerda — o governador até impediu performances artísticas na Casa França-Brasil que criticavam a ditadura e o presidente Jair Bolsonaro.

São humores como os de Witzel e Amorim que o Flamengo de Rodolfo Landim precisa cortejar a fim de avançar alguns de seus projetos. Nesse sentido, o Flamengo permanece apartidário. Na gestão anterior, Eduardo Bandeira de Mello soube convencer Dilma Rousseff a criar o Profut, um programa que renegociou as dívidas dos clubes com prazos e juros de mãe para filho, e obteve do prefeito Marcelo Crivella algumas das licenças necessárias para alterar a sede que fica no coração do Leblon. O que mudou agora, além dos governos, foi a esfera de prioridade da Gávea.

Os corações e mentes a conquistar estão no Executivo e no Legislativo estaduais, para resolver três metas. Mais urgentes são os alvarás que liberarão o CT Ninho do Urubu, ultrafiscalizado após o incêndio que matou dez meninos da base em fevereiro, que dependem do Corpo de Bombeiros do estado. 

Depois, vem a mítica reconquista do Maracanã, sonho que as últimas gestões acariciam desde a primeira concessão do estádio, feita por Sérgio Cabral. Por último, as licenças para embalar os planos de reforma da sede do clube na Gávea, onde seria erguida uma arena de pequeno porte, para 20 mil pessoas.

Do outro lado, Witzel tem demonstrado que transformou o Flamengo em prioridade de sua gestão. Primeiro, a quebra da concessão pegou de surpresa a Maracanã S/A, que acreditava ter as bênçãos do governo do estado depois de reuniões bem-sucedidas. 

Depois, as regras para a gestão temporária do estádio foram alteradas duas vezes, de forma a permitir que os clubes pudessem disputar com empresas. Mas empresas não têm torcedores: ninguém chorará quando o último caminhão da Odebrecht deixar o portão da Radial Oeste.

O ato de "devolver o Maracanã aos clubes" tem um tremendo simbolismo na metafísica carioca. A discussão sobre o baixo faturamento dos clubes na arena ajudou a fermentar a sensação de que, mesmo com o Maracanã batendo recorde de jogos entre os estádios da Série A sem um centavo público, a concessão de Sérgio Cabral à Odebrecht ainda era um erro a ser corrigido. E o Flamengo liderou o processo, numa guinada que começou quando a gestão Eduardo Bandeira de Mello decidiu baixar, ainda em 2018, sua antipática política de preços.

Rodada após rodada, as imagens do mar de rubro-negros confrontadas com o baixo faturamento dos borderôs pareciam traduzir que o Flamengo estava fazendo sua parte; o problema era que a Maracanã S/A devorava o bolo. Análises mais profundas, porém, mostram que não é bem assim. 

Uma reportagem de O Globo sobre os borderôs das partidas do Estadualmostrou que os clubes não faziam sua parte: despesas mal detalhadas e rubricas nebulosas drenam, rodada após rodada, algumas centenas de milhares de reais a cada partida, sem que os clubes jamais tivessem interesse em rediscutir seus fornecedores.

Além disso, o Maracanã tinha se tornado uma arena cara depois da última reforma para a Copa de 2014. Conforme os balanços, a concessão nunca saiu do vermelho, embora tivesse amortizado seus prejuízos anuais com uma intensa agenda de eventos. A má fase do Fluminense piorava o cenário, com jogos tão deficitários que beiram o impraticável. O sonho era seduzir o Vasco a levar seus jogos de maior relevo ao Mário Filho.

O problema é que Vasco e Fluminense se engalfinham pelo setor sul, à direita das cabines de rádio. Mandante da final da Taça Guanabara, o Vasco clamava um direito histórico datado dos anos 50; por sua vez, o Flu mostra as cláusulas do contrato. Já a Odebrecht dizia que tais cláusulas só valeriam se o Fluminense estivesse em dia com as contas que pendurava no estádio — e que, por isso, autorizou o Vasco a ocupar o setor sul.

A briga entre Odebrecht, Vasco e Fluminense deu ao estado o pretexto ideal para entregar o estádio ao Flamengo. Todos sabem que, sem sua presença no estádio, ninguém aceita tomar as chaves. Articulado politicamente e dono de uma camisa que entorta varais e bancadas, o clube conseguiu derrotar a velha objeção de deixar um patrimônio do futebol brasileiro nas mãos de gestões e eleições definidas pelos títulos que conquistam. 

O Fluminense vai a tiracolo nessa empreitada, mas é preciso saber até quando. A permissão de gestão conjunta dura inicialmente por 180 dias, e é difícil imaginar o Flamengo pagando a conta das dívidas que os jogos tricolores costumam deixar.

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