Globo, Folha de S.Paulo e Rodrigo Maia (DEM-RJ) cobraram que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fique menos tempo no Twitter. Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, tem uma tese sobre a cobrança:
"As pessoas que querem Bolsonaro longe das redes sociais sabem que é isso que o conecta com o povo, já que não tem mídia a seu favor. Foi isso que garantiu sua eleição, inclusive. Em outras palavras, o querem fraco e sem apoio popular pois assim conseguiriam chantageá-lo".
Carlos tem razão, não digo quanto aos motivos, mas quanto à centralidade das redes sociais na comunicação com os apoiadores. O problema é que essa é uma parte do povo. Um segmento da população está no Twitter e uma fração segue Bolsonaro. As redes sociais são determinantes, sim, para manter acesa a chama dos apoiadores. Mas, não é suficiente para se conectar a todo o povo.
Em qualquer democracia, existe um canal para representação do povo. Falho, cheio de problemas. Mas, chama-se Poder Legislativo. Bolsonaro é produto dele. Carlos também. Assim como Eduardo, Flávio… A família presidencial deveria ter menos desapreço pelo prato em que come há três décadas.
Fosse eu Bolsonaro, não sairia mesmo do Twitter. O problema é não ir a outros lugares. É não usar outros instrumentos, outras linguagens. Governar como quem tuíta. Não basta mandar a reforma da Previdência e ficar no Twitter pressionando, achando que assim ela será aprovada.
Bolsonaro usa estratégia de relação direta com o eleitor. Espera uma forma de pressão indireta sobre o parlamento. Ao mesmo tempo, renega o diálogo com o Parlamento. Aliás, renega mais ou menos.
À bancada do Ceará no Congresso Nacional, ofereceu uma lista de cargos de menor relevância. Não oferece os filés, mas negocia com funções secundárias. Fisiologismo de quinto escalão segue fisiologismo. É só uma questão de preço.
Como já disse, entretanto, não acho que precise entrar no fisiologismo. Precisa ter diálogo institucional e respeitoso para, na palavra que o próprio Bolsonaro usou, convencer o Congresso.
A estratégia do presidente é outra. Sabe o que me lembra? Curiosamente, Bolsonaro tenta fazer aquilo que eu sempre ouvi que os candidatos dos partidos nanicos de esquerda dizem que fariam no caso de serem eleitos: governar com as massas.
Nas eleições, sempre que entrevistamos candidatos de partidos de pouca expressão, questionamos como eles pretendem fazer para emplacar seus projetos sem maioria parlamentar. Eles, a rigor, demonstram não saber. Mas, descrevem um plano.
O tal do governo com as massas. A aposta seria na apresentação de propostas que o povo apoia. Então, o povo pressionaria os parlamentares, que não teriam alternativa a não ser acatar os projetos. Bolsonaro faz política do mesmo jeito que já vi o PSTU dizer que faria. Claro, para outros fins.
Uma ilusão teórica, uma idealização sobre a súbita politização em massa. Nem todo mundo acompanha política, sobretudo longe de eleição. A maioria não tem. Além disso, governar inclui tomar medidas impopulares. Para ter sucesso com tal estratégia, os níveis de populismo teriam de ser alçados a novos patamares.
Ou será que Bolsonaro imagina mesmo a população fazendo grande pressão para se aposentar mais tarde? Quando a reforma da Previdência de Lula foi aprovada em 2003, houve quebra-quebra.
A proposta passou mesmo assim. Se Bolsonaro consegue um grande movimento de rua pela reforma da Previdência, olha, seria algo sem paralelo na história do mundo.O POVO
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