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domingo, 25 de novembro de 2018

LULA; O FIM MELANCÓLICO DE UM MITO

Por ipuemfoco   Postado  domingo, novembro 25, 2018   Sem Comentários


Na quarta-feira 14, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a sede da Polícia Federal em Curitiba pela primeira vez desde que foi preso, há quase sete meses e meio. 

Levado a prestar depoimento sobre o processo do sítio de Atibaia, do qual é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sentou-se pela primeira vez diante da juíza substituta de Sérgio Moro, Gabriela Hardt.

O que se viu em seguida, episódio inédito da série a que os gaiatos chamam House of Mãe Joana, referência a House of Cards, foi de dar pena até no antipetista empedernido que tenha preservado ao menos um ventrículo do coração. Um senhor de 73 anos, condenado sem provas a mais de 12 anos de cadeia, preso sem trânsito em julgado, magro e envelhecido, irritadiço e desesperançado, é acossado pela jovem e arrogante magistrada.

Tão pateticamente disposta a inaugurar com esplendor suas primeiras 2 horas e 38 minutos de fama, que, a cada intervenção feita às patadas, se tem a impressão de que surgirá ao fundo uma claque de palmas.

A exemplo de Moro, fica claro que, no lugar da juíza a arbitrar uma decisão, tem-se na verdade mais uma promotora de acusação com a sentença na manga e os ouvidos moucos. 

“Não sei se vou viver o suficiente para que se saiba a verdade, porque aos 73 anos a natureza é implacável”, disse Lula a certa altura do interrogatório. “Mas peço a Deus que em algum momento a história deste país possa colocar a verdade do que se passou na Lava Jato, que poderia ter sido uma coisa feita corretamente para pegar ladrão e, no meu caso, se tomou um desvio.”

Em vez da presunção de inocência, diante de tal discurso pode-se presumir a cara de paisagem da juíza Hardt, 42 anos, cujo nome nas redes sociais foi abreviado para Hard (dura), a conferir-lhe assim uma alcunha de vingadora da Marvel. A dupla dinâmica com Super Moro vem desde a Universidade Federal do Paraná, onde Hardt era estudante e Moro, professor.

Gabriela nasceu e cresceu em São Mateus do Sul, cidade de 45 mil habitantes. Passou no concurso e virou juíza aos 34. Metade da carreira de 8 anos atuou em Paranaguá, cuja população conta 150 mil habitantes. Ademais, a Globo informa que Hardt, no caso, Hard, é atleta e “compete em provas de maratonas aquáticas, nadando 5 quilômetros em águas abertas”. 

Tão avassaladora experiência lhe permitirá, favas contadas, condenar um ex-presidente da República de 73 anos a sabe-se lá quanto tempo mais de cadeia. Para tanto, não precisará mais do que um conjunto robusto de convicções, a reboque das quais virão as “provas”.

Enquanto se desenrola o folhetim, o acampamento Lula Livre mantém-se a postos em frente à sede da Polícia Federal, a menos de 50 metros da cela onde dorme o ex-presidente. Depois de 230 dias e negociações diversas, ocupa agora um terreno privado, alugado pela Frente Brasil Popular. Entre 100 e 150 lulistas revezam-se na vigília, mas há um temor crescente de que ela se disperse, o que seria um desastre.

“Este é um espaço de resistência, de teimosia, coragem e lealdade ao presidente Lula”, diz o coordenador do MST no Paraná, Roberto Baggio. “O Lula sempre diz que somos a fortaleza que o mantém forte nesse calabouço.”

“Enquanto ele estiver preso estaremos aqui”, promete a professora Theresa Lemos, integrante da Frente. “Já se planeja um Natal e Réveillon no acampamento”, conta Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do ex-presidente. “Nós temos a tarefa de resistir, porque é uma farsa o que está acontecendo ”, diz o senador petista Lindbergh Farias.

“Qual é o crime Lula cometeu?”, pergunta a presidente do PT e também senadora Gleise Hoffmann. “Corrupção passiva precisa de um ato de ofício. Lavagem de dinheiro também. Lavou dinheiro de quem e onde? O sítio não é dele, ele não pediu as reformas, as testemunhas falaram que não tem nada a ver com recursos da Petrobras.” Para Hoffmann, a audiência de Lula foi “mais uma peça teatral”, um lamentável episódio da série.

A frase parece extraída do realismo fantástico: Lula é acusado de ser dono do sítio de Atibaia, em São Paulo, cujo dono é Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, sindicalista, político, um dos fundadores do PT e amigo de Lula há 43 anos.

Um hipotético PowerPoint a explicar o processo traria o ex-presidente ao centro, crivado de flechas como um São Sebastião: Lula frequentava o sítio, havia pertences de Lula na propriedade, Lula hospedava-se no quarto principal, dona Marisa comprou um barco de lata para deixar na lagoa do sítio, havia dois pedalinhos com nomes dos netos de Lula, uma nota fiscal de Atibaia foi localizada no apartamento de Lula em São Bernardo do Campo.

Por óbvio, nada disso configura crime, ou até os partícipes mais expansivos de um inocente churrasco estariam sob suspeita. Três delatores premiados, então, apontaram como propina paga ao ex-presidente Lula obras realizadas no sítio de Bittar por Odebrecht e OAS, avaliadas segundo a acusação em cerca de 700 mil reais.

Como o ex-presidente já era ex na ocasião das obras, fez-se necessária uma ginástica capaz de “provar” que as empreiteiras levaram vantagens em troca do puxadinho no sítio. 

O resultado revelou um modelo invertido de “corrupção”, tão inédito em seu modus operandi quanto inverossímil: primeiro teriam vindo as contrapartidas, na forma de contratos da Petrobras com as empreiteiras, firmados quando Lula ainda era presidente. Depois, já ex, o puxadinho. Para efeito de condenação, a tese presta duplo serviço: faz desnecessário provar a propriedade do imóvel, e sublinha Lula como o gênio do crime.

Tivesse oferecido como contrapartida ao agrado dos empresários títulos de copiloto em seus pedalinhos, o triste senhor de 73 anos não estaria agora diante de Hard. Hard não é mole. No início do depoimento, ao ser questionada pelo ex-presidente se era ele o dono do sítio, foi logo avisando que “esse é um interrogatório, e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema”.

Mais adiante, ao criticar o PowerPoint usado pelo Ministério Público Federal para apresentar a denúncia do triplex, Lula disse: “Eu, se fosse presidente do PT, pediria a todos os filiados no Brasil inteiro, prefeitos, deputados, para que abrissem processo contra o MP para ele provar o PowerPoint”. Hardt manteve-se firme: 

“O senhor está instigando e intimidando a acusação, eu não vou permitir, o senhor não fale isso de novo”. Por fim, ao escutar de Lula que o doleiro Alberto Youssef “era amigo do Moro desde o caso Banestado”, a juíza achou que era o caso de endurecer e perder a ternura. Dirigindo-se ao advogado Cristiano Zanin, ameaçou pegar Lula na porta da escola: “Ele não vai fazer acusações ao meu colega aqui”.

Lula ainda será sentenciado em outros cinco processos além deste. É acusado de ter recebido da construtora Odebrecht um terreno onde seria construído seu instituto. Em troca, teria mantido a cúpula diretora da Petrobras. 

É acusado também de ter negociado com lobistas suecos a compra de caças militares depois de deixar a Presidência, e de ter aceitado um suborno para prorrogar benefícios fiscais ao setor automobilístico enquanto era presidente. As outras acusações referem-se a obras que a Odebrecht teria conseguido no exterior graças à influência do ex-presidente.

Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, sua imagem no depoimento à Gabriela Hardt teria comovido juízes superiores, que estariam discutindo a possibilidade “remota” de conceder-lhe a prisão domiciliar. A certa altura daquela quarta-feira, o advogado José Roberto Batochio informou que iria deixar a sala de audiência: “Vou pedir licença a Vossa Excelência, meu colega continua aqui a defesa. Agradeço e desejo a todos um bom feriado”.

O ex-presidente não se aguentou: “Me leva com você”. Arrancou risadas, como o Lula velho de guerra. Mas pareceu sinalizar um triste pedido de socorro.

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