Há cerca de um ano, o estado de Pernambuco alertava todo o País ao notar que a chegada de recém-nascidos com microcefalia nos hospitais de referência só aumentava.
A onda de casos surgia entre o fim de agosto e o começo de setembro. Foi no dia 27 de outubro que o Ministério da Saúde foi comunicado e que Pernambuco adotou a notificação compulsória dos casos. Entre agosto e outubro de 2015, houve 90 notificações no Estado, que costumava registrar cerca de nove casos de microcefalia por ano.
Com notificações e olhares expandidos para outros estados, o estudo dos bebês, dos abortos espontâneos e de natimortos permitiu relacionar os casos com a infecção das mães pelo zika vírus durante a gestação. E permitiu ver, também, que a microcefalia, medida pelo tamanho do perímetro cefálico, era apenas uma das manifestações do novo problema.
De outubro de 2015 a setembro de 2016, mais de 9,5 mil casos foram reportados ao Ministério da Saúde, incluindo malformações e alterações sugestivas de infecção congênita. Mais de 1,9 mil foram confirmados.
Dificuldades na audição, na visão, na locomoção e no desenvolvimento são detectadas mesmo em crianças que nasceram sem microcefalia. Assim, a própria nomenclatura do problema a ser combatido e investigado vem mudando. Antes microcefalia relacionada ao zika vírus, ela é tratada atualmente por síndrome congênita relacionada ao zika vírus.
Isso porque é possível traçar paralelo com síndromes congênitas causadas por outros vírus, como rubéola e citomegalovírus. Para os pesquisadores, o espectro de alterações da síndrome substitui o termo “microcefalia”. “Dentro do espectro, há uma variação de manifestações clínicas e de intensidade em cada caso”, esclarece o infectologista pediátrico Robério Leite, professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Ceará (UFC).
Ainda alvo de inúmeras pesquisas no Brasil e no mundo, a nomenclatura da infecção em gestantes pode evoluir ainda para mosaico ou espectro congênito do zika vírus, aponta o neuropediatra André Pessoa, professor do curso de Medicina na Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Como colaborador da Rede Nacional de Especialista em Zika e Doenças Correlatas (Renezika), ele acompanha as discussões do tema em andamento no Ministério da Saúde e na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Apesar das respostas conseguidas pela comunidade científica, há ainda inúmeras perguntas em aberto sobre a ação congênita do zika vírus. Como a prevalência das alterações entre os bebês com mães infectadas, as complicações nos primeiros anos de vida e a letalidade da síndrome, exemplificam os pesquisadores Thália Velho Barreto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Demócrito Viana, da Universidade de Pernambuco (UPE).
O Ciência & Saúde deste domingo volta o olhar para a síndrome congênita do zika vírus e o que já se sabe sobre ela um ano depois do alerta emitido por Pernambuco frente aos crescentes casos de microcefalia. Descobertas que auxiliam no cuidado de mães e filhos atingidos no Brasil. Além das manifestações já identificadas, o material traz as principais dúvidas a serem esclarecidas no futuro. Boa leitura!
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