Cada vez mais presente no debate político brasileiro, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), participou do
debate promovido pela Agência Democratize em sua festa de aniversário, neste domingo (21) em São Paulo.
debate promovido pela Agência Democratize em sua festa de aniversário, neste domingo (21) em São Paulo.
O tema central da conversa foi a atual conjuntura política brasileira — mas sobrou espaço para outras questões polêmicas.
A principal delas foi a declaração feita por Ciro sobre a candidatura de Pedro Paulo (PMDB) para a prefeitura do Rio de Janeiro, durante a semana passada. O ex-governador havia dito que não tinha problema o PDT apoiar o candidato do PMDB no Rio, acusado de ter agredido sua ex-mulher.
“Eu lá no Rio de Janeiro, tinha escolhas pessoais diferentes dessa [de apoiar Pedro Paulo]. Sou amigo do Molon (deputado federal e candidato pela Rede). Tenho uma relação histórica e antiga com o PCdoB, gosto muito da Jandira [deputada federal e candidata pelo PCdoB). Sonho em conseguir reunir o campo progressista em uma única frente”, disse Ciro.
Porém, diante da escolha do PDT do Rio, o ex-governador afirma ter preferido evitar uma discussão interna e uma divisão partidária, ao acolher a decisão da sigla. “Mas o PDT, que tem relevância absoluta, optou pelo Pedro Paulo. Vocês acham que eu iria bancar o purista, bancar uma dissidência no meu sétimo partido?”, completou.
Mas a conjuntura política atual foi o papo central do debate com Ciro Gomes neste domingo em São Paulo.
Impeachment e Dilma
Para Ciro Gomes, a vida de Michel Temer não vai ser nada fácil nos próximos meses — até mesmo se o processo de impeachment contra Dilma sair vitorioso no Senado Federal.
O ex-governador tocou em algumas frentes específicas que podem dificultar as intenções do atual presidente interino em seu projeto político, sendo a principal delas a política de austeridade, e como isso pode se tornar um problema para a sociedade civil.
“No dia seguinte ao impeachment, vocês vão ver a grande mídia partir pra cima [do governo Temer] para cobrar a austeridade por parte do governo”, disse Ciro, sobre a participação da grande mídia corporativa para os próximos episódios da política brasileira.
“O Paulo Skaf vai tomar um monte de pato na testa, porque eles [governo Temer] vão propor aumento de impostos. Vem a CPMF, vem a CIDE. E ainda assim com grande dificuldade de prosperar no Congresso, porque esse Congresso não votou a favor de Michel Temer, votou contra a Dilma”, concluiu o ex-governador.
Outra linha defendida por Ciro foi a questão internacional diante do processo político brasileiro. Para ele, o novo governo deve caminhar cada vez mais longe dos países em desenvolvimento que formam os BRICS, e que isso mostra claramente uma postura de “entreguismo” para a política defendida pelos Estados Unidos:
“Dos BRICS pode sair para o Brasil, por exemplo, um regime de preferências comerciais que dão a econômia brasileira e ao empreendedor brasileiro um mercado consumidor de 3 bilhões de bocas. Você tem a possibilidade nos BRICS de transferências tecnológicas sensíveis para superar rapidamente determinados atrasos tecnológicos, especialmente tecnologias militares ou e de comunicação”.
Ainda no tema internacional, o entreguismo voltou a ser assunto sobre a possibilidade de venda do patrimônio público. “Esses canalhas estão se aprontando para vender a BR Distribuidora, que é o lado filé do negócio, é a distribuição. É o caso de a gente ir lá e tacar fogo, metaforicamente, ou não, pois não houve discussão popular, para ele — Temer — fazer uma mudança tão violenta no país, sem legitimidade”, disse sobre o projeto que tramita no Senado Federal que poderá tornar possível a privatização e venda da Petrobras, principal empresa estatal brasileira.
Quando questionado sobre quais foram os méritos de Dilma Rousseff no comando do Brasil que a fizeram cair nas mãos do Congresso, Ciro tocou em alguns pontos específicos.
O primeiro dele foi a capacidade de Dilma não ter influenciado diretamente na Operação Lava Jato — ou seja, ter deixado as investigações continuarem, mesmo quando figuras centrais do Partido dos Trabalhadores foram afetadas diretamente.
Segundo o ex-governador do Ceará, isso teria sido um dos motivos principais que fizeram Dilma perder apoio no Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados: “Se a agenda do golpe são esses três grupos hegemônicos, a primeira grande questão é que a Dilma não aceitou fazer acordo para travar a Lava Jato”.
Outro motivo teria sido a honestidade de Dilma que, mesmo tendo seguido um caminho considerado “errado” na política e economia, como na nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda em 2015, nunca se demonstrou uma pessoa indigna de ocupar o cargo da presidência da República.
Ciro 2018?
Para encerrar a conversa, não poderia faltar a pergunta sobre a possibilidade de Ciro Gomes concorrer para a presidência da República nas próximas eleições, no ano de 2018.
Ao contrário de outras declarações neste ano, o ex-governador sinalizou pela primeira vez a vontade de ocupar o cargo mais importante do país — mas não necessariamente a intenção de concorrer.
“Eu posso ser candidato a presidente da República, ou posso não ser. Não queria ser. Estava a 10 anos sem disputar eleição. Voltei pra luta por causa desse golpe. Eu me consideraria um covarde se não estivesse fazendo isso”, disse no começo do debate.
Porém, o assunto voltaria depois horas de conversa, no final do evento, após ser questionado se teria vontade de ser candidato — e não necessariamente se vai ser ou não.
O ex-governador, que já foi candidato para presidente em 1998, ironizou uma possível candidatura com a atual situação brasileira: “Eu gostaria de encontrar uma forma de ser presidente sem ter que ser candidato e passar por eleições”, disse Ciro Gomes, que foi rebatido com gritos irônicos de “é golpe!”, em referência ao presidente interino Michel Temer, que deve ocupar o cargo de forma permanente até 2019, caso o impeachment de Dilma se concretize.247
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