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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ZIKA VIRUS; MAIS MORTAL DO QUE NUNCA

Por ipuemfoco   Postado  segunda-feira, dezembro 07, 2015   Sem Comentários

Há alguns meses, os brasileiros passaram a conviver com uma doença cujas consequências ainda são pouco conhecidas pelos médicos, o zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o mesmo da dengue. 

Uma das complicações é a microcefalia, má-formação do cérebro que avança em um ritmo sem precedentes no País. São 1.248 casos suspeitos de bebês que nasceram com a anomalia em 311 municípios de 14 estados, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados em 28 de novembro. Sete dias antes, o levantamento apontava 739 casos em nove estados. Um aumento assustador de 68% em apenas uma semana. 

O surto fez o governo decretar estado de emergência nacional de saúde pública. Para combater esse quadro, que retrata a falência do sistema de saúde brasileiro, o ministro Marcelo Castro chegou a sugerir que as mulheres não engravidassem, numa clara demonstração de que o Estado não tem condições de garantir a vida à população. 

“É um problema de saúde pública sem igual, que deixará seqüelas em toda uma geração”, afirma Maria Ângela Rocha, infectologista pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz de Recife, Pernambuco. “A dificuldade de acabar com o mosquito é muito grande sem uma vacina específica, até hoje não conseguimos combater a dengue.” 

Na semana passada, foi divulgado que o zika também pode ser transmitido por relações sexuais, transfusão de sangue e transplante de órgãos. Às vésperas do verão, a estação onde o Aedes mais prolifera, a população assiste acuada ao aumento da epidemia e à ineficiência do poder público.

DESCASO
A pernambucana Maria das Dores, 29 anos, apresentou manchas
vermelhas no corpo durante a gravidez, mas não teve o
diagnóstico de zika: a filha nasceu com microcefalia
A luta para erradicar o Aedes Aegypti, mosquito que também transmite a chikungunya, não é nova. Mas ao longo das últimas décadas, o Estado tem perdido todas as batalhas. “O crescente número de notificações é só o começo de uma história que revela a displicência das autoridades para controlar o mosquito”, afirma o infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses. 

A raiz do problema está no modelo caótico de urbanização das cidades. “Saneamento básico precário, coleta de lixo inadequada, impermeabilização das cidades e calor e umidade são as condições que a larva precisa para se reproduzir.” Somente este ano, morreram 811 pessoas infectadas pelo vírus da dengue, um aumento de 79% em relação ao ano passado. “A impressão que tenho é que perdemos a guerra contra o mosquito”, diz Timerman.
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A relação entre os casos de microcefalia e o zika vírus foi confirmada no sábado 28 pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará. A constatação veio a partir da identificação do vírus em amostras de sangue e tecidos de um bebê que nasceu no Ceará com microcefalia e outras malformações congênitas. Além disso, mais dois casos de morte foram relacionados ao zika. 

Em ambos as primeiras suspeitas apontaram para dengue. “Existe uma subnotificação de infecções pelo zika, muitos casos entram para a estatística como dengue”, afirma Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, infectologista e supervisor médico do ambulatório do Hospital Emílio Ribas. “Estamos começando a enxergar a ponta do iceberg”, diz.
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A microcefalia pode ocorrer quando a gestante é infectada pelo vírus nos três primeiros meses de gravidez. Ela causa inflamações nos vasos sanguíneos e no tecido cerebral do feto, o que leva à atrofia. 

Surgem, então, as calcificações que impedem o desenvolvimento do cérebro – que passa a ter a circunferência igual o menor a 33 centímetros. O governo estuda reverter o critério para 32 centímetros. “As crianças podem ter problemas de visão, fala, locomoção e crises de convulsão”, diz Regina Coeli, infectologista pediátrica do Hospital Oswaldo Cruz de Recife. 

A dona de casa Maria das Dores Rodrigues, 29 anos, suspeitou que havia sido infectada pelo vírus da dengue durante a gestação. Mas, além das dores e a febre alta, ela também apresentou manchas no corpo, coceira e inchaço nos pés e nas mãos. “O médico disse que era uma virose”, diz. 

No dia 22 de novembro, a pernambucana de Olinda deu a luz à Maria Eduarda, que nasceu com microcefalia. Os especialistas alertam que a transmissão de mãe para filho também pode ocorrer na hora do parto e na amamentação. “E quando a gestante é infectada depois do quinto mês os bebês podem apresentar outras complicações neurológicas”, afirma Oliveira Júnior.
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CRIADOUROS
Água parada é uma das principais condições para a proliferação
do mosquito: cabe à população fazer sua parte
Além da má-formação congênita do cérebro, outra enfermidade associada ao vírus é a síndrome de Guillain Barré. A doença neurológica provoca fraqueza muscular e em casos mais graves pode paralisar a também musculatura respiratória. Segundo o Ministério da Saúde, foram realizados no ano passado 65.884 procedimentos ambulatoriais no SUS em decorrência da síndrome. 

“Este ano quadruplicou o número de casos suspeitos”, diz Maria Lúcia Brito Ferreira, chefe do serviço de neurologia do Hospital da Restauração, em Recife. 

A unidade está fazendo uma revisão com todos os pacientes para investigar o quadro clínico. Dos 131 casos registrados até junho, 70 foram revistos e apresentaram um histórico de virose. Entre eles, seis já estão associados ao zika.

O primeiro caso de transmissão do vírus zika no Brasil é recente – foi confirmado em maio apenas. A infecção, porém, foi considerada mais branda do que a dengue e o governo então decidiu não notificar os casos. “Foi uma decisão errada e precipitada, o governo ficou na zona de conforto como se fosse uma dengue leve, mas foi atropelado pela realidade”, diz Timerman. “Trata-se de uma negligência com a saúde da população.”
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O zika vírus e suas assustadoras complicações têm provocado pânico entre as mulheres, principalmente depois da precipitada declaração do ministro da saúde. “O estado já falhou na garantia de condições mínimas de saúde pública”, diz Antonio Fernandes Moron, professor do departamento de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A diarista Miriam Pereira, 40 anos, vive em Olinda e diz que as vizinhas ficaram apavoradas com a recomendação. “O bairro todo está com medo, tenho uma vizinha grávida que já está com sintomas de depressão.” Fernanda Josefa Pereira Torres, de 21 anos, filha de Miriam, desistiu da gestação. “Tenho dois filhos e queria ter mais um, mas resolvi adiar. Agora é muito perigoso.”
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A principal dificuldade é o tempo que se leva para erradicar o mosquito. Segundo o diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, Cláudio Maierovitch, não há medida capaz de interromper abruptamente a circulação do vetor e as doenças das quais ele é transmissor. 
Para ajudar no combate, além da necessidade de a população colaborar aderindo às campanhas contra o Aedes, agentes do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos chegaram ao Brasil para participar das investigações sobre os casos de microcefalia e outras complicações causadas pelo zika. 
Além disso, no plano federal, o governo incluiu a participação do Exército para remover criadouros e criou um grupo interministerial sob a coordenação da Casa Civil para tratar do surto. Governos municipais também têm criado estratégias. 
Na cidade de São Paulo, moradores que se recusarem a abrir as portas para agentes antidengue terão 24 horas para mudar de ideia ou terão uma visita forçada com o apoio da polícia. Uma força-tarefa para conter o mosquito, que está cada vez mais perigoso e mortal.07.jpg
Fotos: Maíra Erlich, Maíra Erlich; GUGA MATOS/ESTADÃO CONTEÚDO; RODRIGO LOBO/AE, Maíra Erlich; Elza Fiuza/Agência Brasil 


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