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segunda-feira, 16 de março de 2015

ENTREVISTA; O PT ESTÁ SANGRANDO

Por ipuemfoco   Postado  segunda-feira, março 16, 2015   Sem Comentários

O deputado federal cearense José Nobre Guimarães, do PT, está diante de um dos maiores desafios de sua vida, já tão cheia deles: liderar uma bancada rebelada na Câmara, num dos momentos mais críticos da história política brasileira recente e como representante de um governo que vive momento de grandes fragilidades. 

Uma salada de motivos que deixariam qualquer um pessimista, mas que não parecem afetar o humor de quem soma episódios de renascimento político ao longo da trajetória. Roteiro que inclui vitória sobre uma tentativa de cassar seu mandato de deputado estadual, em 2005, após ter assessor flagrado com dinheiro na cueca quando tentava embarcar em São Paulo com destino a Fortaleza em plena crise do mensalão. 

Incentivado pela mãe, que o orientou a lutar, diz ter enfrentado uma dura batalha na época para provar inocência, salvar o mandato e se manter na vida pública. Conseguiu, elegeu-se três vezes deputado federal depois disso e hoje é um dos parlamentares mais influentes no Congresso, ao ponto de ter sido escolhido pela presidente Dilma Rousseff para atuar como líder de seu governo na Câmara.

José Nobre Guimarães abriu espaço em sua disputada agenda política quando está no Ceará para conversar com O POVO no seu escritório político de Fortaleza.

O POVO – A dona Lais, mãe do senhor, diz que sempre foi contra sua entrada na política. Por que, mesmo assim, a opção por contrariá-la?

JOSÉ NOBRE GUIMARÃES – Primeiro, sai de casa com 13 anos. Isso, a minha saída de casa, fez com que eu, digamos assim, rompesse com aquela tradição normal de todo trabalhador, que é a ideia dos filhos estudarem, se formarem e ajudar a família. 
A questão é que quando cheguei em Fortaleza, ao morar na Casa do Estudante, tive ali os primeiros contatos com a ex-prefeita Maria Luiza Fontenele, a Rosa da Fonseca, Nildes Alencar, o pessoal do comitê do Movimento pela Anistia e, é claro, um jovem com 17 anos na época, o contrato com aquele ambiente de efervescência política, não havia caminho senão entrar de cara na política, via movimentos sociais, especialmente o movimento estudantil ali pelos anos 1979, 1980.

OP – Mas ela, ou seu pai, expressou algum, tipo de contrariedade?

Guimarães – Meu pai, que hoje está com 94 anos, não é um homem das letras, é analfabeto, não sabe assinar o nome. A lógica dele, como agricultor, era que todos os filhos trabalhassem na roça para sustentar a família. 
Então, a saída da roça, quando eu decidi que não queria mais trabalhar na roça e iria na marra estudar na cidade mais próxima, que era Senador Pompeu, evidentemente que o silêncio dele, pra mim, foi uma resposta da repulsa à decisão de sair dali para estudar. 
Ele, diferentemente da minha mãe, sempre falava que éramos homens, portanto, podíamos fazer o que quisesse. Era muito assim a relação dele com os filhos, um senhor sertanejo, puro, muito calado, que se dedicou exclusivamente a trabalhar na roça para sustentar 11 filhos. 
A minha decisão de sair do sertão e seguir para cidade, Senador Pompeu e depois Fortaleza, contrariou sim, tanto meu pai quanto minha mãe. Lembro do dia em que fui contar que viria embora para Fortaleza, era 13 de janeiro de 1977, era office-boy em Senador Pompeu na época, uma espécie de faz-tudo do Hotel Central. 
Então, explicar pra mãe, morar com quem, era uma mudança profunda na relação, e, claro, depois tudo se transformou em respeito, em admiração, sou um dos filhos que eles respeitam muito.

OP – Nessa época o senhor já tinha conhecimento da militância do seu irmão, José Genoíno?

Guimarães – Tinha. O Genoíno passou cinco anos preso e, quando ele esteve os últimos dois anos em Fortaleza, em 75 e 76, morava ainda em Senador Pompeu e vim visitá-lo no (Instituto Penal) Paulo Sarasate, em Fortaleza. No primeiro momento, quando ele conversou comigo no presídio, em 76, até para explicar para eles (os pais) e ela (a mãe) entender que ele era preso político, que não era um criminoso, a gente conviver com isso e a partir dai adquirir uma certa opinião é um choque muito grande. 
Então, vieram as primeiras leituras, veio o contato com as meninas. Costumo dizer que minha vida política foi muito influenciada por algumas mulheres, que seriam Maria Luiza, Rosa da Fonseca, Nildes Alencar, Valda Albuquerque, todas do movimento pela anistia, e a dona Lourdes, em cuja casa morei por cerca de seis meses porque não tinha para onde ir. Ela era mãe do Mário e do Pedro (Albuquerque) e me adotou numa visita ao Paulo Sarasate. 
Depois, outras mulheres foram igualmente decisivas na minha trajetória, como uma ex-freira, a Tarcisia, que era casada com um francês e que foi uma espécie de segunda casa minha em Fortaleza, foi, digamos assim, uma espécie de segunda mãe que tive. Objetivamente, a verdade é que jamais imaginei que acabaria sendo deputado.


OP – O senhor parece ter diante de si uma dura tarefa como líder do governo Dilma Rousseff. Há, hoje, uma espécie de rebelião dos presidentes da Câmara e do Senado, então, como agir nesse momento?

Guimarães – Na preliminar, diria que tudo que fiz na minha vida pública até hoje foi desafiador, especialmente de 2000 pra cá. Este talvez seja o desafio maior, a coisa mais desafiadora da minha vida como parlamentar, como deputado federal. 
É preciso, primeiro, desconstituir essa história de que a base esteja rebelada, há uma repaginação, estamos consolidando o Colégio de Líderes e vice-líderes, e o que existe, não é pouca coisa, admito, é uma crise mesmo na relação com o PMDB. É preciso deixar isso bem claro, especialmente na relação com os presidentes Eduardo Cunha (Câmara) e Renan Calheiros (Senado). 
Quando você elege um presidente nas condições em que o Eduardo Cunha foi eleito, não questiono sua vitória, sua eleição, mas derrotando um candidato do PT, evidentemente que fica um entulho do tamanho do mundo para recompor, não é brincadeira. Os erros cometidos pelo PT viabilizaram a vitória de Cunha, mas viramos a página.

OP – O que o senhor considera mais grave na pauta que é de interesse dele?

Guimarães – Acho que o mais grave é se nós vacilarmos na questão do ajuste fiscal, os temas que interferem diretamente na economia, as Medidas Provisórias do ajuste, PECs que impactam 70 bilhões de reais para a União e, claro, isso pode quebrar o País, a matéria que trata da política do salário mínimo, e outras pautas corporativas mais. 
Falta ao Congresso, muitas vezes, a percepção de País, porque não se pode ficar eternamente nessa briga de governo contra oposição, esse clima de mata-mata. Lota-se as galerias e qualquer Hino Nacional é 5 bilhões de reais a mais para a União pagar. Isso não pode!

OP – Não falta um mea-culpa do PT quanto a isso, deputado? Quando oposição, o partido agia de forma muito parecida.

Guimarães – Só pra terminar a questão anterior, há ainda a crise da Operação Lava Jato. Isso tem impacto no Congresso, independente de quem esteja na lista. Se o Procurador da República encaminha uma lista de políticos para serem investigados, incluindo os presidentes das duas Casas, não há Congresso que resista, nem base aliada. 
É um processo que está em aberto, que não vai se resolver antes de seis meses. Talvez 2015 seja o ano mais duro e mais difícil da jovem democracia brasileira. É claro que não podemos transformar a lista numa crise institucional, a crise hoje está muito mais no Congresso do que do lado de lá. Está até difícil a relação, a convivência. Como discutir reforma política num ambiente desse?

OP – Mas, deputado, em relação a essas medidas que o Governo considera necessárias para ajustar a economia do País, não é apenas a base, genericamente, que cria dificuldades. O próprio partido da presidente Dilma, o PT...

Guimarães – O PT sempre foi assim. O Psol fez uma pesquisa com a bancada do PT e disse que a maioria é contra o ajuste. Conversa pra boi dormir! O PT nunca faltou com apoio à Presidenta, nunca! Lembro que quando o Lula era presidente, eu era deputado estadual, a mais dura, mais radical reforma que ele fez foi da Previdência Social, até os vidros da Câmara Federal foram quebrados por nossa base social, radicalizada, quem não lembra dos vários episódios de manifestações, inclusive aqui em Fortaleza? O que aconteceu depois é que o País deu um salto. 
Quem governa tem a responsabilidade de fazer os ajustes para preservar a espinha dorsal daquilo que é o modelo de desenvolvimento, o crescimento. É claro que todo mundo sabe que o País vive uma crise, hoje. 
Pra ser menos duro, temos uma situação de dificuldade, a inflação furou o teto, as taxas de juro estão altas, mas o Brasil não enfrenta risco de quebrar. Quanto as vozes do além, essas vozes oposicionistas, que ficam apregoando saídas autoritárias, evidentemente que há um objetivo político nisso tudo.

OP – Sobre o mea culpa do PT, deputado.


Guimarães – O PT precisa passar por uma profunda reforma, eu acho. Afinal de contas, o Brasil do nascimento do PT não é o Brasil de hoje. Quando nascemos, havia dois objetivos: derrubar o regime militar e implantar a democracia, depois governar o Brasil com Lula. 
O governo Lula deu certo, mas qual é o problema hoje? Como fazer os ajustes necessários para o governo Dilma continuar consolidando as conquistas para avançar em outras perspectivas. 
Não temos como seguir em frente sem adotar medidas profundas na economia. Por exemplo, as duas MPs que tratam de seguro desemprego, pensão por mortes etc fazem parte de um conjunto de medidas necessárias. 
Não é verdade que se está retirando direitos, o que há é um ajuste, se está tocando em problemas que tornaram uma zona alguns benefícios da Previdência Social. O problema é que no Brasil as pessoas sempre gostam de um jeitinho e nós precisamos corrigir isso. Outra questão é a da desoneração das folhas de pagamento, nós não estamos acabando com elas, estamos mudando as alíquotas para que os empresários também façam sua parte. 
A Dilma deu 75 bilhões de isenções nas desonerações que foram feitas sob compromisso dos empresários de investir em novas empresas, expansão do mercado, contratações, preservação de empregos, e aconteceu que muitos ficaram na moita, foram fazer especulação lá fora. 
Portanto, os empresários precisam fazer um pouco de sua parte agora. Uma outra coisa é que o governo está fazendo um corte brutal nos seus gastos. Nós temos que avançar, ainda, na questão das grandes fortunas porque sem fazer isso o Brasil não segura, não terá dinheiro para dar perenidade a essas políticas.

OP – Essa é a pergunta que gostaria de fazer ao senhor: o discurso é de que direitos não estão sendo retirados, mas, de qualquer modo, a conta está caindo sobre os setores mais fragilizados da sociedade. Por que até hoje o PT não tomou, como está no seu programa e como parece ser uma de suas finalidades, medidas que avançassem na direção de fazer mais justiça social. Reforma tributária, no sentido de taxas não apenas as grandes fortunas, mas também o lucro, de taxar o lucro, de cobrar mais imposto de quem ganha mais. Por que, em 12 anos no poder, medidas do tipo não foram tomadas?
Guimarães – Porque nos doze anos nós sobrevivemos e muito bem. Havia um objetivo claro da nossa parte nesse período, que era combater a pobreza, vencemos e essa, pra mim, é nossa maior conquista. O Brasil hoje é exemplo no mundo, os programas de inclusão social, apesar do discurso raso da oposição sobre o Bolsa Família, que eles foram contra sob o discurso de que era uma esmola etc. 
O Bolsa Família é um programa estruturante, como mostra o fato de dois milhões de pessoas do seu cadastro. E é um programa moralizado, que ninguém frauda mais. Há outros programas mais, na previdência, sobre crédito, microcréditos, nós fizemos uma revolução social no Brasil. Qual é a outra revolução que precisamos fazer no Brasil, agora? 
É dar consistência e perenidade às políticas públicas, em segurança, educação, saúde, inovação, ciência e tecnologia. Para fazer isso, você tem razão, já falando como petista, ou nós nos direcionamos para taxar os grandes rentistas do País, uma contribuição maior das grandes fortunas, o patrimônio líquido das empresas... Não pode, nós temos uma parte da sociedade que tem tudo e não quer dar nada. Não vê a história da CPMF? 
Quem é que tirou 45 bilhões de reais? Foi o Senado e os empresários senadores! Ou seja, eu posso ou não posso dar 10 reais por mês para a saúde, desde que vinculado? Cria-se logo a ideia de que é mais imposto sendo criado. Grande parte do empresariado brasileiro quer tudo do Estado, quer financiamento, recursos, investimento para tornar seus negócios competitivos, querem tudo, mas na hora de oferecer algum sacrifício...

OP – Mas, a taxação das grandes fortunas seria pauta já pra 2015?

Guimarães – Por mim seria agora. Há mais de dez projetos de lei que abordam o tema tramitando na Câmara. Claro que se falar em taxas as grandes fortunas assusta, o melhor é ir pelo caminho da maciota, no bom sentido, há necessidade de analisar melhor a pirâmide social, investidores que não geram empregos, que só especulam com as altas taxas de juros, bancos que conseguem lucros além da normalidade, enfim, nós temos que meter o dedo aqui.

OP – Deputado, a gente chega a 2015 e encontra o PT, de novo, envolvido num escândalo de grandes proporções com a operação Lava Jato. O que aconteceu? O partido não aprendeu com tudo que envolveu o caso do Mensalão?

Guimarães – Primeiro, o abalo do PT com toda a situação de hoje é supervalorizado. É fundamental estabelecermos o que está acontecendo no País com esse escândalo relacionado à chamada, operação Lava Jato. A verdade é que setores importantes da mídia, da oposição programática e de setores do Judiciário construíram o seguinte caminho: nós precisamos criminalizar o governo. Não estou querendo dizer que o PT não comete erros, sobre os quais falo mais adiante. 
Depois, tenta-se de maneira grosseira e antidemocrática encurtar o mandato da presidenta Dilma, os mesmos setores que sustentaram o Regime Militar. A mesma delação que serve como base para instalação da CPI da Petrobras, focando em eventos de 2005 pra cá, é a mesma delação e os mesmos delatores que dizem ter dado dinheiro para a campanha do PT, do PSDB, de Aécio (Neves) e de todo mundo. Mais ainda, que tudo começou em 1997. 
Li vários depoimentos dos, chamados, delatores e é claro que a corrupção dentro da Petrobras foi praticada por agentes públicos, algo que tem de ser exorcizado dentro da empresa. O PT, vamos concluir todo o processo que está em discussão e é a maior vítima, porque governa o Brasil. A presidenta Dilma tem alguma coisa a ver com isso? Não, não tem, a Dilma é séria. 
O que acontece é que nessa construção que há no País de financiamento público de campanha o PT, tal como os outros, pegou dinheiro oficial para o financiamento de suas campanhas. Isso é crime? O PT precisa fazer uma correção de rumos, claro, mas os episódios de 2015 não começaram em 2015, há um processo em curso no País que vem de muito tempo. 
O PT precisa fazer uma revolução interna, precisa mudar seus órgãos de direção, precisa colocar organismos de controle para que filiados seus não cometam deslizes do ponto de vista ético. Agora, é claro que nem tudo denunciado se transforma em realidade...

OP – Mas o PT fez o que deveria ter feito para tirar as lições necessárias da crise do Mensalão?

Guimarães – Acho que o PT não tirou todas as lições, porque ainda hoje isso tem impacto no partido. O que foi feito no País por vários partidos, sobretudo quanto ao financiamento de campanhas, o PT também fez e está pagando um preço muito alto. Qual o remédio para isso? Não tem jeito, só corrige com financiamento público ou, no mínimo, interditar o financiamento privado.

OP – Qual tipo de revolução, deputado?

Guimarães – Acho que não permitir mais financiamento privado de campanha dentro do partido. Acho que lutar pelo financiamento público, dentro de uma reforma política; montar um sistema de controle interno para evitar que os malfeitos continuem acontecendo. 
Outra coisa é que as direções não podem continuar sendo direções, nos transformamos muito numa eficiente máquina eleitoral e perdemos aquilo que nos foi mais caro, a forte ligação com as bases, com o cotidiano das pessoas. Nós nos institucionalizamos demais e seguimos o mesmo roteiro dos outros partidos burgueses.

OP – Quais cuidados o senhor pessoalmente teve quanto aos gastos de sua campanha em 2014?
Guimarães – Fiz uma das campanhas mais baratas, nem fiz extravagâncias. Sabe por quê? Porque lá no Congresso tanto faz ter 200 mil votos como 500 mil, o peso político de cada um é o mesmo. Já fui vítima no passado, todo mundo sabe como esse processo tramitou na justiça, senti as injustiças na própria carne e, por isso, sou uma pessoa muito mais cuidadosa nas minhas campanhas. 
A questão é que esse modelo não sobrevive mais, ou nós mudamos ou ele vai acabar com a política. Vivemos um dilema atualmente porque a sociedade não aceita o financiamento público, ao mesmo tempo em que o financiamento privado é um mal, é a âncora de todo esse processo de corrupção no Brasil. 
E é porque há hoje no País uma imprensa que investiga e um governo que permite investigação, porque isso ninguém diz. No passado não se permitia sequer investigação. O PT está sangrando, está sofrendo, mas acho que ele vai renascer das cinzas.

OP – Ainda que se leve em conta, como o senhor diz, a pressão de setores da imprensa, do Judiciário, a questão original é que o PT cometeu os delitos. Um partido que se diz tão vigiado não sabia que isso poderia acontecer? A defesa do PT em relação a todos esses episódios não tem sido muito tímida?

Guimarães – Eu acho. É claro que o que acontece com outros partidos parece não interessar muito, nós somos mais vigiados. Isso, de certa forma, é bom. O PT sabe disso, mas a ficha parece que ainda não caiu. Não acho isso ruim, essa vigilância maior sobre nós, mas acontece que não nos demos conta disso, é um deslize grande nosso. Defende uma mudança profunda na organização do PT, começando por uma atualização do programa.

OP – O fato é que o PT, hoje, transformou-se num partido profundamente marcado pela corrupção? O senhor esperava que isso acontecesse um dia?

Guimarães – Também marcado pelos vícios que a corrupção estabeleceu no Brasil. Infelizmente. Isso, pra nós, é o maior drama e o nosso maior desafio é exorcizar essa mácula que foi carimbada no PT. Seja pelos erros, seja pela campanha de criminalização, seja pela insuficiência nas nossas formulações. O PT não nasceu para ser igual aos outros, mas, infelizmente, em vários aspectos nós nos transformamos. Na questão da eleição, no financiamento de campanha,

OP – O senhor, que é uma das principais lideranças do PT no Ceará, considera ter responsabilidade em todo o processo de construção de uma imagem negativa do partido a partir do envolvimento pessoal do episódio em episódios caracterizados como escândalo? Por exemplo, em plena crise do Mensalão a prisão no aeroporto de São Paulo de um assessor, na época, com dinheiro na cueca.

Guimarães – Primeiro que me ajudou muito a refletir sobre essas questões. Muito! Não basta ser, tem que parecer ser, por isso lutei tanto para provar minha inocência. Você sabe, no fundo de sua alma, o que fez e o que não fez, cada um sabe bem. Percorri todas as instâncias e digo a vocês com toda sinceridade que, naquele episódio, se eu não tivesse consciência tranquila e confiança absoluta de meus atos não teria passado por tanta humilhação como passei naquele processo do Conselho de Ética da Assembleia. 
Diante dos arautos da ética, que não têm moral nenhuma, querendo me cassar por uma coisa que eu não fiz. Só vai quem não tem culpa no cartório, quantas vezes não briguei com o jornal O POVO mesmo naquela época? Fui pra guerra total, política e jurídica. Evidentemente que até hoje há processos correndo contra os outros, mas a responsabilidade sobre isso não é minha, é da justiça. Quero dizer que aquele episódio me amadureceu muito, você passa a ter mais dimensão da política.

OP – O certo é que acaba sendo uma marca que o senhor vai levar, não é? Por exemplo, no momento em que seu nome foi confirmado como líder do Governo na Câmara o vínculo é feito imediatamente.
Guimarães – É, mas, semana passada, teve o assessor de um deputado pego no carro com 100 mil reais em Brasília, são 250 deputados com processos etc. É claro que tendo sido um episódio jocoso, não pelo fato em si, faz-se menção o tempo todo a ele, um absurdo. 
Os episódios acontecem, mas, a partir dai, querer criminalizar um político como tentaram fazer comigo? É claro que ficam marcas, ainda há feridas, até pela maldade dos outros, gente sem moral para fazer qualquer imputação. Foi um episódio que me fez amadurecer muito. 

Para alguns eu deveria abandonar a política, para outros, como a minha mãe, seguir em frente, e para mim, enfrentar tudo, todos e dar a volta por cima.

OP – O senhor se admite, hoje, como um político de influência nas estruturas federais no Ceará? Há injustiça, por exemplo, quando se fala de uma ação do senhor dentro do Banco do Nordeste?
Guimarães - Veja bem, ter influência na política e no ambiente político do seu Estado nada tem de extraordinário. É engraçado, na gestão do Fernando Henrique Cardoso o (senador) Tasso Jereissati passou oito anos indicando o presidente do BNB.. Quer dizer que pra nós, pra mim, para o PT, é crime ter influência mas para os outros não? 
Claro que se sou vice-presidente nacional do PT, se tenho uma história vinculada ao Lula, cuja campanha à presidência da República em 1989 coordenei andando de ônibus. Será que essas relações não valem hoje? 
Claro que valem! Essa é a influência, que considero boa para a política. Se eu ligo para o presidente da Assembleia do Ceará e peço a ele para atender ali o fulano, o fato de pedir para atender significa que estou mandando a pessoa fazer um malfeito? 
Claro que não! Ou ao presidente do Banco do Nordeste, ou do Banco do Brasil, ou a um ministro. Acho que essas coisas foram muito deturpadas, fui injustiçado nessas questões todas, Hoje estou de cabeça erguida, não nego que sou uma pessoa de grande influência no governo da presidenta Dilma e a única coisa que quero é servir ao Ceará. 
Por exemplo, fui outro dia ao ministro Nelson Barbosa (do Planejamento) acompanhando o governador Camilo Santana e pedi a liberação imediata de recursos para o Cinturão das Águas. É influência? Claro que é, mas se tenho essa oportunidade quero utilizá-la em benefício do Estado. 
É isso. O que não pode é a influência para benefício próprio, até porque não tenho negócio, nunca tive negócio, meu único negócio é com a política.

OP – O senhor já foi hostilizado alguma vez?

Guimarães – Nunca. Em meio a toda aquela crise, em que respondia a processo no Conselho de Ética da Assembleia, resolvi testar e fui três vezes ao estádio Castelão.

OP – Torcer Fortaleza ou Ceará?

Guimarães – Fortaleza, tem gente que recomenda não dizer, mas eu não deixo de falar pelo coração por ser político. Fui para o estádio, em meio à crise, claro que você precisa ter um certo cuidado, mas tinha gente que te cumprimentava efusivamente e outras olhavam meio que te incriminando. 
Mas, hostilizado nunca fui. Gosto muito de andar por Fortaleza, gosto muito de ir ao (shopping) Iguatemi, sempre corto meu cabelo lá, moro perto, não gosto de perder essas referências. Engraçado é que outro dia me lembraram que eu gostava tanto de andar no Iguatemi e perguntaram se sabia quem era o dono. 
Falei que sabia, claro, mas aproveitei para dizer que o Governo Dilma era tão bom que até para os que fazem oposição demonstra-se republicano, pois lá tem uma placa anunciando o financiamento do Banco do Nordeste para segunda etapa da ampliação.

OP – Episódios como o que envolveu recentemente o ex-ministro Guido Mantega, hostilizado em hospital particular de São Paulo, preocupam o senhor?

Guimarães – Preocupa a intolerância. Está havendo uma intolerância muito grande e ele é construído por setores da sociedade, parte dos quais são os mesmos que sustentaram o Golpe, o Regime Militar que não deu liberdade de imprensa, de organização partidária e sindical. 
São aquelas vozes do além, que vejo espalhadas por ai nos Facebook da vida, nas redes sociais pedindo o impeachment da Dilma. A democracia brasileira é sólida e nós precisamos conviver com esse tipo de coisa, não tem que se apavorar. 
A militância do PT precisa ter claro que há uma disputa de grandes proporções e não podemos aceitar o que se está querendo fazer com a Petrobras. O que o PSDB está querendo é mudar o modelo, é enfraquecer a empresa para entrega-la às petrolíferas internacionais.

OP - A decisão mais recente do STF no processo do mensalão, extinguindo a pena do ex-deputado e ex-presidente nacional do PT, José Genoino, irmão do senhor, o que representa dentro de todo esse contexto?

Guimarães - Todos os cearenses, principalmente as pessoas que compreendem a política como uma coisa do bem, sabem quem é o Genoíno. O Genoíno foi injustiçado! O que posso dizer é, como disse minha mãe ao telefone: 'meu filho, fizeram justiça1. Então, é isso, a justiça fez justiça, e por unanimidade, foi 7 a 0. É uma reparação...


OP - Ele ainda é resgatável para a política? Tem ânimo?

Guimarães - Ele nunca abandonou a política, mesmo durante esse período de reclusão. Quase todo ele fala comigo, fala com a gente, analisa a conjuntura. Vamos aguardar, mas o Genoino está com a cabeça muito boa. 
A decisão judicial não repara tudo, diante de tudo que ele sofreu, embora a pena ser extinta já representa um primeiro passo. É claro que agora ele tem que cuidar da vida, o País ainda há de fazer justiça com o Genoino e esse primeiro passo da Suprema Corte é importante.

OP – Como promover uma aproximação entre Governo e Congresso, diante de um quadro em que isso representará um entendimento com forças conservadoras a partir dos atuais presidentes da Câmara e do Senado? Como encaminhar isso, na condição de líder do Governo?
Guimarães – O presidencialismo de coalizão está deformado no Brasil. Falta conteúdo programático e se tem de caminhar o tempo todo no fio da navalha, entre partidos que tem ideias diferentes e o governo que precisa de governabilidade. 
O que defendo, o que estou fazendo, é trabalhando pela concertação política em cima de alguns eixos, isso é o que acertei com a presidenta Dilma. É preciso uma agenda comum para os líderes da base, não é possível ficar apenas na base do mata-mata. Há um problema político, é fato, mas quem está no epicentro da crise é o Congresso.

OP – Por que o senhor não foi candidato ao Senado em 2014? Trata-se de um sonho sepultado ou apenas adiado?

Guimarães – Em política nada pode ser dado como arquivado. Claro que eu estava preparado para ser candidato em 2014 e, mais do que isso, o PT todo estava envolvido com meu nome para a disputa.

OP – O senhor acha que seria um páreo mais duro para o candidato Tasso Jereissati?
Guimarães – Claro que sim. Tai, essa era a disputa que eu gostaria de ter feito. Até duvido se ele seria candidato, porque o Lula tinha me ligado, na véspera, uma quarta à noite, para perguntar se eu iria mesmo para a disputa. 
Disse que estávamos discutindo, mas adiantei que estava decidido a ir e ele disse que iria começar a fazer campanha para duas pessoas no Brasil: você e o Paulo Rocha (no Pará). Você acha que com o Lula envolvido diretamente seria a campanha morna que acabou sendo? Foi um passeio para o Tasso e claro que se fosse contra o PT teria se dado num outro nível. 
Era pau puro! A sociedade iria discutir quem seria o melhor nome para o Ceará, quais eram as ideias, os legados. Eu estava com a cabeça absolutamente boa para aquela disputa. Algumas pessoas diziam que eu poderia não ser o melhor nome porque voltariam as questões do passado e dizia que seria bom que voltasse, porque as do Tasso também voltarão. 
Estava com a cabeça absolutamente boa para a disputa, mas houve uma sugestão de mudança, o lançamento do Camilo, e longe de mim nessas horas não ser grande. Havia uma necessidade de rebobinamento do projeto, aceitei e, sem crise, fui reeleito deputado federal.

OP - O senhor terá, certamente, voz influente na decisão que o PT adotará para disputa do próximo ano pela prefeitura de Fortaleza. Qual a tendência hoje? É de candidatura própria ou de apoiar a reeleição do prefeito Roberto Cláudio?

Guimarães - Nós vamos fazer em Fortaleza o que for melhor para o PT. Todas as possibilidades devem ser consideradas, não se pode ter posição fechada sobre nenhuma delas. Nós temos um projeto de longo e médio prazo para governar o Ceará e, dentro disso, como é que ficam as eleições de 2014? Vale para Fortaleza e para vários outros municípios. 
Na hora certa vamos nos sentar e discutir isso, sentar com a Luiziane (Lins, ex-prefeita e atualmente deputada federal) para discutir. O PT não pode brincar de eleições em Fortaleza. Não está definido nada, são todas ideias iniciais que estão postas.

OP - Todo político tem um sonho. Qual é o sonho do senhor?

Guimarães - Governar o Ceará um dia.

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