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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O DESABAFO DO AFILHADO DE LULA; " NINGUÉM SUPORTA MAIS CORRUPÇÃO"

Por ipuemfoco   Postado  sexta-feira, fevereiro 13, 2015   Sem Comentários


Na festa pelos 35 anos do PT, em Belo Horizonte, o ex-presidente Lula disse que, em casos de “dúvida” quanto à correção moral de algum petista, “fica com o companheiro”. 

Lula se referia a João Vaccari Neto, o tesoureiro de seu partido, acusado de receber propinas no escândalo da Petrobras, o petrolão. Fernando Haddad, prefeito de São Paulo e afilhado político de Lula, tem opinião diferente. 

Questionado sobre o assunto, ele não acusa Vaccari – mas também não o defende. Na dúvida, prefere o silêncio. E cita positivamente o exemplo de sua administração. Em 2013, seu secretário de Governo, Antonio Donato, citado no caso da Máfia dos Fiscais, pediu para se afastar do cargo

O prefeito aceitou o pedido. “Vai muito da pessoa”, diz Haddad. Ele admite que o petrolão foi decisivo para a pífia votação do PT em São Paulo, nas eleições do ano passado. E ataca o “Fla-Flu ideológico”, agravado, segundo ele, pelas manifestações de junho de 2013.

ÉPOCA – O senhor atribui o mau resultado do PT em São Paulo, no ano passado, ao petrolão?

Fernando Haddad – Atribuo. Acho que o impacto foi muito forte. 

A crise da Petrobras afetou, não tem como negar. E nós temos de saber lidar com isso. Contribuindo com o aprofundamento das investigações, dando total respaldo aos profissionais sérios, para que eles cheguem aos responsáveis e a punições exemplares para não deixar dúvida sobre o compromisso do governo com a ética.

ÉPOCA – O senhor concorda com a forma como o PT lida com as denúncias contra seus membros, como o tesoureiro João Vaccari Neto, citado na Operação Lava Jato? Ele foi aplaudido na festa de aniversário do partido.

Haddad – Eu desconheço qualquer acusação formal ao Vaccari. De uma maneira geral, entendo que a vida política se tornará insuportável se nós não procedermos de maneira mais aguda em relação a desvios de conduta. Não dá para tolerar. Ninguém suporta mais. 

Estou há 14 anos na vida pública, comecei na gestão da Marta Suplicy em 2001. Graças a Deus vivi em paz, porque em todos os cargos que ocupei tive a felicidade de ter, até o presente momento, grandes colaboradores que ajudaram a construir um projeto. Para uma pessoa correta, fazer política significa se privar de convívio familiar, em geral, incompreensão, muitas vezes, e abrir mão de enriquecer. 

Não tem como você fazer política honestamente pensando em enriquecer. Se isso não estiver claro para a pessoa, é melhor não vir para a política. Primeiro, porque eu acho que ela vai ser punida. Os tempos da impunidade felizmente estão sendo superados.

ÉPOCA – Não há uma denúncia formal contra Vaccari, mas existe uma investigação em curso. O senhor não acha que o PT deveria afastá-lo até a conclusão da apuração?

Haddad – Olha, vai muito da pessoa. Por exemplo, eu tive um secretário, Antonio Donato, que foi acusado. E ele se afastou. Um ano depois foi eleito presidente da Câmara, porque o Ministério Público não conseguiu achar absolutamente nenhuma comprovação das acusações que um fiscal corrupto tinha feito contra ele. 

ÉPOCA – A senadora Marta Suplicy está num flerte com o PSB. O que o senhor acha da possibilidade de vir a enfrentá-la como candidata em 2016?

Haddad – Eu gostaria que a Marta permanecesse no PT. Só me cabe respeitar qualquer decisão dela.

ÉPOCA – O que o senhor achou da frase de Marta: “Ou o PT muda ou o PT acaba”?

Haddad – A frase vale para todos os partidos, em primeiro lugar. E talvez com maior ou menor intensidade desde sempre. Os partidos são obrigados a se reciclar. Ainda mais para um partido que está fechando um ciclo, na verdade, e precisa reabrir outro. 

Os programas sociais já estão incorporados no acervo de conquistas da classe trabalhadora, ninguém mais discute vários dos avanços. Assim como a estabilização monetária já não é um ativo do PSDB, muita coisa que o PT fez não é mais um ativo do PT. 

O passo que os partidos precisam dar daqui para a frente passa pelo mote da minha campanha em 2012: “A vida melhorou da porta de casa para dentro. Agora, nós precisamos melhorar a vida da porta de casa para fora”. 

Quarenta por cento dos brasileiros vivem nas metrópoles. Precisamos tornar as cidades brasileiras urbanas, no sentido etimológico do termo.
"Muita coisa que o PT fez não é mais ativo do PT. O partido precisa reabrir outro ciclo”

ÉPOCA – O senhor foi criticado por governar São Paulo como se ela fosse Amsterdã, por privilegiar ciclovias, em vez de obras na periferia.

Haddad – Eu tenho pretensões de que São Paulo não se veja mais como cidade terceiro-mundista. Já criticavam as faixas de ônibus em 2013. Em 2014, foi a vez da ciclovia. Tem uma agenda de curto prazo, que é mais simbólica. Nunca mais São Paulo vai ver o transporte público como via no passado. 

Os bilhões de reais que foram gastos para fazer faixa de rolamento na Marginal Tietê, acho que isso nunca mais vai ser feito. Esse paradigma do carro e asfalto está sepultado. Mas não estou descuidando da periferia. Tenho 50 quilômetros de corredores de ônibus em obras. Há três hospitais planejados. O primeiro vai ser entregue em maio, depois de dez anos sem hospital novo em São Paulo.

ÉPOCA – A última pesquisa do DataFolha mostrou que o índice de aprovação a sua administração caiu muito.

Haddad – Isso aconteceu, curiosamente, com os últimos prefeitos. No primeiro semestre de terceiro ano de mandato, é rigorosamente a mesma avaliação. É óbvio que não há um determinismo, mas ser prefeito em São Paulo desde a gestão Celso Pitta (1997-2000) tem sido muito difícil para todos nós por causa da carga de dívidas e precatórios herdados, que tornam a cidade de certa forma ingovernável. Não é atributo da direita ou da esquerda. Simplesmente ninguém tem varinha de condão.

ÉPOCA – Mas por que o senhor acha que houve esse aumento da rejeição a sua administração?

Haddad – O debate está muito ideologizado. Você vai fazer uma coisa legal como grafitar os arcos da Avenida 23 de Maio (arcos construídos na década de 1920 e preservados pelo Patrimônio Histórico). Duzentos grafiteiros foram selecionados por uma curadoria deles. É uma galeria a céu aberto, que estabelece a primeira experiência estética de muita gente que não visita museu. 

Os GEmeos (artistas paulistanos) grafitaram um castelo na Escócia. Agora, as pessoas que curtiriam isso, se tivesse sido feito cinco anos atrás, na gestão do PSDB, passam a dizer que não é legal e falam de agressão ao patrimônio histórico. Comparar um castelo na Escócia com um muro de arrimo... Não é arco, é muro de arrimo do arco... Uma democracia não é Fla-Flu.

ÉPOCA – E por que o ambiente se tornou um Fla-Flu?

Haddad – Com as manifestações de junho de 2013 o espaço do diálogo se estreitou. Muitas pessoas entenderam como alargamento do processo democrático, mas eu tenho minhas dúvidas. Acho que, naquele momento, houve estreitamento e uma polarização exagerada. Eu nem relaciono isso com a questão da tarifa de ônibus, porque depois da redução da tarifa houve um ano inteiro de manifestações até a Copa. 

Democracia não é desentendimento. É divergência e convergência, é a construção de um projeto. Há pessoas no PT que não colaboram para a convergência, mas outras buscam entendimento. Ninguém pode reclamar da atitude que eu venho tendo em relação ao governo do Estado. Ninguém pode acusar minha postura de partidária, preconceituosa, de demarcação estéril. Do outro lado, do PSDB, há também aqueles que não colaboram e não ajudam a construir as pontes.

ÉPOCA – Por falar em entendimento, como o senhor vê a atuação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na crise de água?

Haddad – Nós tentamos, desde março do ano passado, estabelecer um tipo de relação de confiança. Lembro o episódio em que nós mandamos uma carta para os gestores dos equipamentos públicos da cidade. Nela, demos o quadro que nós imaginávamos que iria se concretizar. 

Na época, fomos chamados de irresponsáveis, eleitoreiros. Foi um episódio muito desagradável, porque eu vinha mantendo uma relação de muita lealdade com o governo do Estado. Acho que agora a confiança se restabeleceu.

ÉPOCA – Faltou transparência para o governador Alckmin na eleição sobre esse tema?

Haddad – A impressão que eu tenho é que ele tinha convicção de que a crise não chegaria a este ponto.

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