O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, contaram em depoimento à Justiça Federal do Paraná detalhes de como o dinheiro das fornecedoras da Petrobras migraram para o caixa dois do PT, PMDB e PP e abasteceram suas campanhas políticas em 2010. Segundo ele, cada diretoria tinha um operador indicado pelo partido de mando.
Até agora, foram identificadas 13 empresas que pagaram ou repassaram, a pedido de empreiteiras, dinheiro de suborno destinados a políticos. Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, UTC Engenharia, Mendes Junior, Engevix, Toyo Setal, Jaraguá Equipamentos Industriais, Iesa e Sanko Sider são citadas nas investigações.
Segundo Youssef, ele operava apenas o dinheiro da diretoria de Abastecimento e soube por empreiteiras e pelos próprios operadores do esquema nas demais áreas.
O doleiro disse que se reuniu pelo menos duas vezes com João Vaccari, tesoureiro do PT, que atuava como “operador” da diretoria de Serviços, área que recebia 2% do valor dos contratos da diretoria de Abastecimento, além dos 3% integrais dos contratos que ela própria firmava.
Perguntado se o pagamento da comissão era informado para as empreiteiras, Youssef foi categórico.
— Era bem colocado, sim, muito bem colocado. Era negociado contrato a contrato — disse, acrescentando que se não pagassem havia ingerência política e do próprio diretor da área, “de forma que ela não faria a obra”.
A maioria das empresas que pagou suborno emitiu notas para empresas de fachada criadas por determinação de Youssef, como Rigidez, GDF e RCI, ou que vendiam notas frias para o esquema, como a MO Consultoria, de Waldomiro Diniz, que cobrava 14,5% do valor das faturas.
Depois de passar pelas empresas de fachada, o dinheiro era distribuído aos beneficiários.
— O que era de Brasília ia para Brasília, o que era de Paulo Roberto Costa ia para Paulo Roberto Costa, no Rio de Janeiro — afirmou Youssef, o responsável pelos pagamentos, inclusive de Costa, que recebia o dinheiro vivo em entregas a um de seus dois genros.
Em seu depoimento, Paulo Roberto Costa afirmou que uma agenda apreendida pela Polícia Federal em sua residência tem uma tabela onde consta que ele pagou R$ 28,5 milhões para sete políticos do PP. Um dos beneficiados foi João Pizzolatti, do PP de Santa Catarina, que recebeu R$ 5,5 milhões. Ele não foi encontrado ontem.
Acusado de ser o mentor da organização criminosa, Youssef afirmou que o operador inicial do esquema era o deputado José Janene, que se encarregava de fazer a distribuição do dinheiro entre os políticos até 2010.
— Não fui o criador desta organização. Eu simplesmente fui uma engrenagem para que se pudesse haver recebimento e pagamento a agentes públicos.
Perguntado se a divisão do dinheiro costumava ser variável, o doleiro disse que não. Segundo ele, os percentuais sempre foram os mesmos e também a divisão era feita de acordo com "o cronograma".
Apesar de os percentuais sobre os valores dos contratos serem variáveis e passíveis de serem negociados pelas empresas, o percentual destinado aos agentes políticos era fixo.
Youssef se mostrou surpreso com a informação de que o PT, na diretoria de Serviços, recebia um percentual de 2%, maior do que o destinado ao PP, de 1%.
— Se ele (Paulo Roberto Costa) está dizendo que era 2%, ele sabe mais do que eu — comentou.O GLOBO
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