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domingo, 7 de setembro de 2014

MARINA SILVA; DO SERINGAL À LUTA PELO PLANALTO

Por ipuemfoco   Postado  domingo, setembro 07, 2014   Sem Comentários



No meio do caminho de Marina Silva há uma estrada. A trajetória da ex-senadora e a da BR-364, que atravessa o Acre, cruzaram-se em muitos trechos. 

Foi em um seringal à beira da rodovia que ela nasceu. 
Aos 16 anos, chacoalhou por seis horas em um ônibus pela BR até chegar a Rio Branco, onde se trataria de hepatite e iniciaria a vida política. Em 1995, em meio a uma polêmica envolvendo a estrada, tornou-se inimiga pública do estado, foi ameaçada de morte e perdeu apoio de parte dos seus conterrâneos por muito tempo. 

A BR-364 explica, em parte, por que a candidata, dona de resultados gloriosos em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, ficou em terceiro lugar na disputa presidencial em seu estado natal, em 2010. A estrada é uma metáfora do desafio de Marina em 2014. 

Acolhida nacional e internacionalmente, ela ainda não venceu a desconfiança dos acrianos. Tenta mostrar que suas bandeiras e sua trajetória podem representá-los.

A construção da BR-364 tornou-se um sonho de progresso no Acre desde que o presidente JK a planejou, em 1960. Trinta e seis anos depois, quando efetivamente a pavimentação começou, dividiu o estado em dois: os desenvolvimentistas, representados por empresários do agronegócio e políticos de direita, e os ambientalistas, por Marina e seu grupo do PT. 

As máquinas pararam de funcionar rapidamente. Por falta de estudos de impacto ambiental da obra, o Ministério Público a embargou. Oficialmente, Marina não teve ligação com a ação do MPF, mas foi responsabilizada pelo episódio.

No Vale do Juruá, região Oeste do estado, a notícia gerou manifestações e ameaças de morte.

— Foram para as ruas carregando caixões com o nome, a foto de Marina — afirma Antônio Alves, amigo e colaborador da candidata de longa data.

Diante da informação de que Marina estaria em um avião em direção à região, políticos e empresários de Cruzeiro do Sul fecharam a pista do aeroporto com tratores e carros.

— A história tem quase 20 anos, mas quando passo divulgando a Marina no Vale do Juruá ainda me olham torto. Aqui, ela padeceu muito. Talvez tenha precisado dessa visibilidade nacional e internacional para ser querida localmente — afirma Júlio Pereira, um dos fundadores da Rede no Acre.

Ironicamente, um dos líderes da obstrução da pista do aeroporto é hoje vice-governador do Acre e cabo eleitoral da candidata. César Messias, do PSB, compõe o governo com Tião Viana, aliado histórico de Marina, e ilustra as mudanças na política do Acre e do Brasil.

— Naquela época, eu era radical para um lado, e ela era para o outro. Já superamos isso. Mesmo entre ex-opositores, hoje ela é quase unanimidade — contemporiza Messias, que acredita que Marina ganhará no estado em 2014.

O discurso de Messias é otimista, mas ele mesmo reconhece as dificuldades de Marina para enfrentar uma máquina que ela mesma ajudou a criar: o PT detém o governo do Acre há 16 anos e está em primeiro lugar na disputa pela reeleição.

O caminho de Marina até a candidatura à Presidência passou por uma hepatite que a expulsou do seringal.

— Ela optou por ir para a cidade porque não tinha mais condições de trabalhar na agricultura. Estava muito fraquinha — afirma Maria Aurilene Silva, de 53 anos, irmã da candidata.

Quando chegou a Rio Branco, Marina acalentava o sonho de ser freira. A família sempre fora profundamente religiosa. A diversão da adolescente, na casa em que trabalhou como empregada doméstica na capital, era se fingir de freira. 

Improvisava um altar com santinhos de papel e colocava uma fralda sobre a cabeça, simulando um hábito:

— E aí passava horas ajoelhada, rezando baixinho. Só Deus sabe o que tanto ela pedia, mas vai ver que foi de tanta oração que veio essa estrela tão forte pra ela — especula Terezinha Lopes, a primeira patroa de Marina.

Da casa de dona Terezinha, Marina se mudou para o convento das Servas de Maria Reparadoras. Nesse mesmo período, alfabetizou-se e concluiu o supletivo. Para estudar, driblava inclusive a rígida disciplina do convento, ficando acordada até tarde em suas leituras à luz de vela.

Inesperadamente, do convento no qual se preparava para uma vida em clausura, surgiu uma saída para uma nova vida. Um cartaz afixado nas paredes da igreja informava sobre um curso para formação de lideranças rurais, como conta a própria candidata na biografia autorizada “Marina — A Vida por uma Causa”. 

No curso, Marina conheceu os preceitos da Teologia da Libertação e o movimento dos seringueiros contra o desmatamento, conhecido como empate. Foi pouco a pouco se aproximando de Chico Mendes e das lideranças rurais e se afastando das freiras, até que rompeu com o convento.

Partido Revolucionário Comunista

No fim da década de 1970, ingressou no então clandestino Partido Revolucionário Comunista e passou a professar as palavras de Marx. Entrou para um grupo de teatro, o Semente, cujas temáticas uniam arte e política. 

Fez amigos progressistas — que defendiam o fim do desmatamento, as pautas dos trabalhadores e a liberdade de fumar maconha. E passou na Universidade Federal do Acre, no curso de História. 

O nível de engajamento era tamanho que, de sua turma, sairiam dois governadores e dois senadores. Nas discussões mais acaloradas, em meio a citações de Gramsci e Marx, Marina costumava lançar mão também da Bíblia:

— Era surpreendente como ela sabia salmos de memória e os usava para sua ação política. Ela seguia sendo profundamente religiosa — afirma o amigo de militância Henrique Silvestre.

O lado espiritual de Marina virava piada no grupo. Antônio Alves admite que havia preconceito pelo fato de ela ser “igrejeira”, algo considerado ultrapassado pelos amigos comunistas. 

Sua verve religiosa, no entanto, não a impediu de fundar o PT em parceria com Chico Mendes e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). 

Em campanhas precárias, do alto de uma brasília velha, gritando a plenos pulmões pelas ruas de Rio Branco, ela se tornou vereadora. E depois deputada, até chegar a ser senadora.

As sequelas das doenças que sofreu na infância, no seringal, continuaram perseguindo-a até Brasília. Na capital federal, a situação se agravou, e Marina começou a ter degeneração cerebral. Sofria com tonturas, vista dupla, desorientação. 

O diagnóstico — contaminação por metais pesados — demorou a chegar. E o tratamento — um remédio altamente tóxico — podia matá-la, dado o grau de debilidade de seu corpo. Tão grave era o caso que, em uma consulta em Brasília, o médico admitiu a falência de seus recursos científicos e recorreu a um pastor. 

Atraída para a igreja Assembleia de Deus, Marina afirma ter tido uma epifania milagrosa na fila de fiéis para receber a unção: o nome do remédio que podia ser letal lhe veio à cabeça, junto com a certeza de que ele não lhe faria mal.

O tratamento mudou a vida de Marina não apenas fisicamente. A despeito das inúmeras restrições alimentares, atualmente a ex-senadora tem boas condições físicas. Um efeito adicional do remédio foi aprofundar sua fé.

— Marina passou de marxista-leninista para evangélica fervorosa. A trajetória não é retilínea, o que provoca desconfiança — afirma Elder Andrade, professor da UFAC e ex-companheiro de Marina no PRC.

É com essa desconfiança que Marina terá de lidar para ganhar em sua própria terra. O rompimento com o PT, com a Igreja Católica, o antigo radicalismo ambiental e marxista, a atenuação do discurso ambiental e o programa liberal na economia, a fé evangélica. 

Os pontos de interrogação sobre ela estão amplificados no Acre. Como disse a candidata, é difícil ser profeta na própria terra.

Dois casamentos e quatro filhos

Marina Silva se casou duas vezes. De Raimundo Gomes de Souza, o pai de seus dois primeiros filhos, separou-se porque ele bebia demais. Pouco tempo depois da separação, casou-se com o técnico agrícola Fábio Vaz de Lima, com quem tem duas filhas. 

Fábio era colega de militância de Marina e cursava biologia na UFAC quando os dois se beijaram pela primeira vez, em uma festa do diretório acadêmico. Dali, sairia uma união de quase 30 anos.

Fábio é discreto, quase nunca fala em público embora goste de acompanhar a mulher nos eventos de campanha. Quando Marina saiu do PT, Fábio a acompanhou, mas não deixou a gestão petista no estado, onde foi secretário adjunto de desenvolvimento florestal.

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