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sábado, 30 de agosto de 2014

A GRANDE VIRADA; O QUE OS JOVENS PENSAM SOBRE POLÍTICA

Por ipuemfoco   Postado  sábado, agosto 30, 2014   Sem Comentários

Nas eleições de 5 de outubro, mais de 140 milhões de brasileiros estarão aptos a votar. Nesse universo, um terço dos eleitores – pouco mais de 45 milhões de pessoas – é formado por jovens entre 16 e 33 anos. 

Para entender melhor a cabeça política da juventude brasileira, quais suas demandas e de que maneira ela pode influenciar na corrida eleitoral, ISTOÉ destrinchou uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular com 3.500 jovens do País. 

O levantamento revela, entre outros dados interessantes, que essa turma, por ser mais informada do que seus pais e levar dinheiro para dentro de casa, contribuindo para o aumento da renda, forma opinião, influencia no voto da família e pode até decidir a eleição. 

A pesquisa não questiona em quem eles votariam. Mas mais de 50% deles se encontram entre os eleitores indecisos ou que pretendem anular o voto. O discurso, porém, carrega um viés de oposição. 

Como na maioria da população brasileira, o desejo de mudança está impregnado em 63% deles, que acreditam que o Brasil não está no rumo certo. Apesar disso, 72% desses brasileiros que têm entre 16 e 33 anos consideram ter melhorado de vida. Mas a juventude indica querer mais. 

“Eles querem serviços públicos de mais qualidade, maior conectividade, acessos livres a banda larga e a tecnologia de ponta. E não abrem mão da manutenção do poder de compra”, afirma o autor do estudo, o publicitário Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
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O levantamento embute outros recados importantes à classe política. Ao mesmo tempo que 92% acreditam na própria capacidade de mudar o mundo, 70% botam fé de que o voto possa transformar o País e 80% reconhecem o papel determinante da política no cotidiano brasileiro, fatia expressiva dos jovens do Brasil (59%) acredita que o País estaria melhor se não houvesse partido político. 

Para os jovens, as agremiações partidárias e os governantes não falam a linguagem deles. “Os políticos são analógicos e a juventude digital”, atesta Renato Meirelles. Observador atento do cenário político e um dos maiores especialistas sobre o comportamento da juventude brasileira, Meirelles foi quem criou o verbete “Geração D” – de digital, numa alusão à juventude conectada.

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Nascidos totalmente integrados à tecnologia digital, sob os ventos favoráveis da estabilidade econômica, da democracia e com menos privações que a geração anterior, esses jovens foram os grandes protagonistas das manifestações de junho de 2013, quando milhões de pessoas de todo o País foram às ruas para cobrar mudanças na política brasileira. 

De lá para cá, a onda de indignação, revolta e envolvimento dos jovens na vida política só cresceu. Chamados a dialogar, eles foram instados a ter opiniões. Não existe aí uma novidade. Os jovens sempre tiveram opiniões. Muitas opiniões, diga-se. A diferença crucial agora é que o que eles dizem tem muito mais peso. 

Eles são ouvidos e exercem influência sobre a família. “Hoje, as decisões familiares são totalmente compartilhadas. Inclusive as decisões políticas”, afirma a estudante Sâmia Vilela, 27 anos. A história de vida de Sâmia iguala-se à de milhões de jovens brasileiros que na última década deixaram para trás a pobreza, conseguiram estudar e abriram seu próprio negócio.
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Filha de uma cobradora de ônibus, que nas horas vagas ainda arrumava tempo para fazer salgados para vender nas ruas de São Paulo, ela foi criada na favela, ficou anos longe do banco escolar, mas hoje estuda marketing e tornou-se uma pequena empreendedora. 

Criou um blog sobre como organizar festas de casamento com pouco dinheiro, o Casamento sem Grana. “Hoje, minha página soma 3,5 milhões de pageviews e 40 mil usuários únicos no mês”, comemora. 

O caso bem-sucedido de Sâmia dá vida a números da pesquisa do Data Popular segundo os quais 85% dos jovens acreditam que só é possível progredir na vida com muito trabalho. “A internet ampliou o repertório, as redes de relacionamento e as possibilidades de ascensão social dessa geração”, afirma Meirelles. 

Não apenas isso. A internet e as redes sociais viraram palco dos novos debates políticos – a maior parte deles travada por jovens. O que rola na rede é disseminado em casa por meio da juventude conectada. 

Se surge uma informação nova sobre determinado candidato, o assunto logo vira tema de discussão no seio familiar durante cafés da manhã, almoços e jantares, momentos em que normalmente todos estão reunidos em torno da mesa. “Hoje, sou muito mais escutado em casa, ainda mais quando o assunto é política”, diz Júlio Espósito Fernandes, 25 anos. 

Estudante de pós-graduação, ele trabalha nas empresas da família. “Cresci ouvindo meu pai dizendo: vote nesse candidato. Ele rouba, mas faz. Hoje, não aceito essa história”, conclui. “Não há como discutir o processo eleitoral sem falar dos jovens – que estão olhando para a frente, não para trás”, diz o autor da pesquisa. 

Numa direção oposta a 59% dos jovens que afirmaram que o Brasil estaria melhor se não tivesse nenhum partido político, a produtora de audiovisual Mary Miloch, 23 anos, acredita que o aperfeiçoamento da democracia passa pelo fortalecimento das organizações partidárias. 

“Não consigo imaginar a política sem partidos”, diz Mary. O problema, segundo ela, é que “algumas legendas têm dificuldade em dialogar com os jovens”. 

Primeira da família a fazer um curso de nível superior, Mary é estudante de rádio e televisão e cursa universidade com o auxílio de uma bolsa integral do Prouni. Apaixonada pela política, ela esteve nas ruas durante as jornadas de junho do ano passado e integra o grupo de jovens que acreditam na importância do voto para a mudança dos rumos do País. “Eu não só sei, como tenho certeza da nossa capacidade transformadora”, afirma.
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Migrante
Vivian Silva, beneficiada pelos programas sociais e pelo aumento
na oferta de empregos e renda, dita o rumo na família
Ao menos em casa, a juventude já ajuda a transformar a vida de seus pais, contribuindo no orçamento doméstico. Hoje, de cada R$ 100 que um pai da classe alta injeta na economia do lar, o filho jovem coloca R$ 57. Na classe C, também a cada

R$ 100, o filho investe R$ 96. O fato de os jovens participarem ativamente no orçamento familiar deu a eles a condição de ser um dos interlocutores da família. Aos 29 anos, a operadora de telemarketing Vivian Silva mora na cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, com a mãe, os dois filhos e o marido. 

Migrante nordestina, Vivian desembarcou na capital paulista em busca de trabalho há três anos. Chegou praticamente só com a roupa no corpo. Dependente dos programas sociais do governo como o Bolsa Família, ela conseguiu trabalho, comprou seu imóvel através do programa Minha Casa Minha Vida e hoje cursa universidade. 

Ela faz parte dos 92% dos jovens brasileiros que acreditam na capacidade da juventude de mudar o mundo. “Como nos consultam para adquirir ou pesquisar sobre um determinado produto, a família também nos procura para saber de política, economia e outras notícias”, garante Vivian.

Esse apoderamento dos jovens é explicado, segundo Meirelles, por diversos fatores. Além de ter mais acesso à informação (93% dos jovens são conectados), a juventude digital é muito mais escolarizada que os pais. 

Quando o recorte da pesquisa trata da educação nos lares brasileiros, salta aos olhos a evolução educacional dos filhos da classe C (54% dos brasileiros). Nesse estrato da sociedade, sete em cada dez jovens estudaram mais que seus pais. É o caso da garçonete Verônica Gonçalves, 30 anos. A mãe era analfabeta até os 30 anos, quando ficou viúva, e foi obrigada a estudar. 

Diante das necessidades alimentares dos filhos, ela aprendeu a ler. Agora, trabalha e divide com os três filhos as despesas da casa. “Hoje, lá em casa, somos todos internautas e dividimos tudo. 

Principalmente, as decisões de compra”, diz ela. Indecisa eleitoralmente, apesar das mudanças na vida na última década, Verônica está atenta aos programas eleitorais para definir seu voto. “Precisamos melhorar um pouco mais”, diz ela, que pretende estudar gastronomia no próximo ano.
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Atuação política
Mary Miloch, assim como milhões de brasileiros, participou dos
protestos de junho de 2013 e acredita que seu voto pode fazer
a diferença nas eleições de outubro
Neste mundo de interatividade, a enorme capacidade da juventude de assimilar as transformações tecnológicas interfere em como esses jovens agem, pensam e levam o seu ritmo de vida. 

Ao contrário do que muita gente possa pensar, o estudo do Data Popular mostra que os jovens querem um Estado forte, com a eficiência do setor privado e que ofereça serviço público gratuito de qualidade. “Essa juventude quebra a lógica política tradicional, ideológica”, explica Meirelles. “Principalmente porque os jovens dessa geração utilizam-se de uma régua muito mais rigorosa para medir a qualidade do serviço público do que os pais”, explica Meirelles.
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Estado forte
Líder dos rolezinhos, Vinícius André do Prado acha que, além de médicos,
os jovens precisam de professores e de mais segurança, até no ambiente virtual
Do ponto de vista comportamental, os jovens da geração D são ambiciosos, impulsivos e ousados. Contestadores, eles não querem saber de censura. Impactados pelo sucesso dos programas de distribuição de renda, redução da pobreza e pleno emprego, eles, agora, querem muito mais dos políticos. 

Na pesquisa do Data Popular, a segurança aparece em primeiro lugar entre os problemas que mais preocupam os jovens, seguido por políticas públicas para a juventude e a inflação do cotidiano. O jovem Vinícius André do Prado, 18 anos, é um dos jovens da periferia que cobram das autoridades uma maior presença do Estado no cotidiano das comunidades, principalmente na questão da segurança. 

Um dos líderes dos chamados “rolezinhos”, Vinícius diz que a quantidade de brigas nas baladas e em eventos frequentados pelos jovens da periferia está afastando o público jovem do lazer. “A falta de segurança é o nosso principal problema. Rolam muitas brigas nas baladas”, queixa-se. “O pessoal fica falando da ausência de médico na periferia, mas faltam professores, bolsas de estudo e publicidade para informar a gente sobre os projetos”, critica Vinícius. 

Para ele, os governos utilizam-se de ferramentas comunicacionais atrasadas, como o rádio, para anunciar projetos. “Será que alguém nas zonas urbanas ainda ouve rádio?”, questiona. O governo, segundo o líder dos rolezinhos, pensa o País com a cabeça voltada para o passado. E eles só querem saber do futuro. Os rebeldes de outrora, hoje conectados e formadores de opinião em casa, não deixam de ter muita razão.

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