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sábado, 29 de março de 2014

SARNEY E OS MILITARES; "ASSUMI PARA SER DEPOSTO"

Por ipuemfoco   Postado  sábado, março 29, 2014   Sem Comentários

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Ex-presidente José Sarney concedeu importante depoimento à jornalista Laura Greenhalgh,
em que falou sobre a transição democrática; "estudiosos dizem que conseguimos fazer a melhor transição da América do Sul. Primeiro: não deixei para trás hipoteca pendurada com os militares. 

Eles voltaram aos quartéis, depois que fechei o acordo de que a transição seria com eles, e não contra eles. Foi um governo de trepidações, sim, mas exitoso ao criar uma sociedade democrática. Um governo que terminou com um operário concorrendo à presidência da República, o que era inimaginável naqueles tempos", disse ele


Maranhão 247 - Nos 50 anos do golpe militar de 1964, o ex-presidente José Sarney concedeu um importante depoimento sobre a transição democrática à jornalista Laura Greenhalgh.


Leia abaixo alguns trechos e confira aqui a íntegra:


O que o moveu a aceitar ser vice na chapa do Tancredo?


Eu não aceitaria a candidatura presidencial do Paulo Maluf, pelo PDS, em primeiro lugar. E também havia um movimento para prorrogar o mandato do Figueiredo. A reação a tudo isso entrou pela porta da minha casa: vi meu filho Zequinha, que já era deputado, votar a favor das Diretas Já. 

Disse a ele que me orgulhava do seu voto. E disse a mim ter chegado a hora de ir para casa. Renunciei à presidência do PDS. Mas aí o Ulysses resolveu namorar comigo. Ia quase todo dia à minha casa, "você não pode ficar de fora e não ajudar o Brasil nesse momento...". Recusei, mas daí o Aureliano Chaves me chamou também, pregando a união e dizendo que o partido iria indicar o vice na chapa do Tancredo. Sugeri o nome do Marco Maciel. 

Foi quando o Tancredo, certa noite, mandou um avião me buscar em Brasília, para um jantar na casa do (escritor) Murilo Mendes, em Belo Horizonte. Fui. Murilo e sua senhora me receberam, Tancredo estava com a dona Risoleta. Enquanto as duas mulheres conversavam, os três homens tramavam.

O que exatamente?

Tancredo disse que o vice teria que ser eu e que essa seria uma das condições para ele deixar o governo de Minas e encabeçar a chapa. Reagi, "mas, Tancredo, eu fui presidente do PDS....". E aí ele veio com o argumento fatal: "Então você conhece o mapa da mina, sabe como os delegados vão para a convenção e pode articular muito mais". 

Lá pelas duas ou três horas da manhã disse que aceitaria, com uma condição: se não encontrassem um nome que agregasse mais. No dia seguinte, em Brasília, Aureliano bateu na mesa e disse "sem você na chapa, não tem aliança". Ulysses foi também muito correto comigo. 

A partir daí comecei a articular: construímos uma dissidência grande, evitamos a eleição do Maluf, a continuidade do Figueiredo e os militares aceitavam o Tancredo. Pude dizer a Tancredo: "Não pense que pode ser presidente sem uma base militar lhe sustentando".

O senhor se considera o condutor da transição democrática no Brasil?

Estudiosos dizem que conseguimos fazer a melhor transição da América do Sul. Há alguns fatores a ponderar. Primeiro: não deixei para trás hipoteca pendurada com os militares. Eles voltaram aos quartéis, depois que fechei o acordo de que a transição seria com eles, e não contra eles. Eu lhes dei essa garantia. 

Construímos uma Constituição democrática, avançamos no plano econômico, fomos para o "tudo pelo social". Esses programas que estão aí já haviam começado no meu governo - combate à fome, distribuição de leite, vale-transporte, tudo vem daquele tempo. O crescimento no meu governo foi 5% ao ano e hoje não se fala nisso! Os preços subiam, sim, mas subiam os salários, imediatamente. 

Com isso fizemos um colchão que nos protegeu de seguir o Fundo, com sua fórmula criada para a Europa. E saiba que se eu tivesse cedido ao FMI, teria sido deposto. Foi um governo de trepidações, sim, mas exitoso ao criar uma sociedade democrática. Um governo que terminou com um operário concorrendo à presidência da República, o que era inimaginável naqueles tempos.

Acha que a História não lhe faz justiça, Presidente?

Ainda vai fazer. A transição democrática brasileira se deve ao meu temperamento, também, esse jeito nordestino de dialogar. Cometi um erro ao voltar à política quando encerrei meu mandato presidencial. De novo, deveria ter ido para casa, mas daí veio o Collor, com todos aqueles problemas, e me chamaram de volta, isso, antes do impeachment. Saí então senador pelo Amapá, porque o PMDB não me deu legenda no Maranhão. 

Mas, enfim, olhando para esse meu retorno, vejo-o com arrependimento.Já havia encerrado a missão maior, que foi a transição democrática. E é só o que o País deve a este presidente improvisado, que assumiu para ser deposto.

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