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domingo, 20 de outubro de 2013

MUNICÍPIOS GASTAM MAIS COM BUROCRACIA QUE COM SAÚDE

Por ipuemfoco   Postado  domingo, outubro 20, 2013   Sem Comentários

                    São José do Sul. Sede da prefeitura da cidade, inaugurada no ano passado, custou R$ 3,5 milhões, enquanto a reforma do único posto de saúde de lá teve orçamento de R$ 55 mil; à direita, o prefeito do município gaúcho, Anildo José Petry <252,1> Foto: Nabor Goulart/Agencia Freelancer / Nabor Goulart
São José das Missões, a 310 quilômetros de Porto Alegre (RS), tem um posto de saúde e dois médicos para dar conta de 2,7 mil habitantes. Quarenta crianças em idade pré-escolar têm aulas em salas improvisadas na única escola estadual existente por lá, enquanto esperam a construção de uma creche, com recursos do governo federal, que só deve ficar pronta em 2014. 

A cidade gaúcha ficou apenas na 3.090ª colocação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 5.565 municípios brasileiros. Em meio a tantos números, existe um ranking que São José das Missões encabeça: o de prefeitura que, proporcionalmente, mais gastou em 2011 para custear a máquina pública municipal. Entre suas despesas, 53% foram destinados apenas para essa função.


Levantamento inédito da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), feito a pedido do GLOBO, mostra quais são as principais despesas das prefeituras Brasil afora. Conclui que 533 cidades analisadas (12%) gastaram mais com atividades burocráticas da administração e com o Legislativo local do que com Saúde e Assistência Social; e que 548 (12,3%) desembolsaram mais com o custeio da máquina pública do que com Educação. Os dados, fornecidos pelas próprias prefeituras ao Tesouro Nacional, são relativos a 2011. 

A análise leva em consideração 4.437 municípios que apresentavam dados consistentes para o período.

Os salários de professores e de médicos, por exemplo, estão contabilizados como gastos em Educação e Saúde, respectivamente. Já administrar as contas das prefeituras, fazer o controle interno, normatizar e fiscalizar ações privadas locais, além das despesas do Legislativo, entram como custeio da máquina pública.


Cruzando os dados, verifica-se que 269 prefeituras gastaram mais com atividades burocráticas da administração e com a Câmara de Vereadores do que com Saúde, Assistência Social e Educação. Metade delas possuía menos de 5 mil habitantes no período analisado, e apenas dez superaram a barreira dos cem mil habitantes. É um indicativo de que o peso da administração municipal é maior nas cidades pequenas.


Justamente para impedir que esses municípios menores e que tanto gastam para manter a máquina pública se proliferem é que o Senado aprovou, na semana passada, um projeto de lei complementar que permite que os estados autorizem a criação de novas cidades, mas impede que elas tenham menos de 5 mil habitantes.


— Independentemente do tamanho do município, há uma estrutura mínima necessária ao funcionamento da prefeitura. Em cidades pequenas, os ganhos de escala da administração são limitados, impedindo a queda dos custos com a manutenção da máquina pública e, portanto, limitando os recursos para outras áreas — explica o gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Guilherme Mercês, responsável pelo levantamento.


Para se ter uma ideia, cada cidadão brasileiro desembolsou, em média, R$ 280 para custear a administração e o Legislativo municipais em 2011. Em uma cidade com menos de 5 mil habitantes, esse valor mais do que dobra, passando para R$ 621.

Os dados mostram que, apesar de ainda significativas, as despesas destinadas ao custeio da máquina pública foram as que menos avançaram entre 2006 e 2011: passou de 16% para 14%.

— É desejável que esses gastos comprometam o mínimo possível do orçamento, de forma a não consumir recursos que poderiam ser destinados à prestação de serviços à população. Mas vale ressaltar que essas cidades destoam do conjunto de municípios brasileiros, onde essas despesas vêm perdendo espaço no orçamento, ao mesmo tempo em que crescem os gastos com Saúde e Educação — analisa Mercês.


O Rio Grande do Sul tem seis cidades entre as dez que, proporcionalmente, mais gastam com o custeio da máquina pública. O GLOBO foi a São José do Sul, cidade com 2,3 mil habitantes no pé da serra gaúcha e sétima colocada no ranking dos municípios que mais apresentam despesas com a administração e a Câmara de Vereadores, percentualmente.


Não foi fácil encontrar a prefeitura. Não há placas indicativas, ela não está ao lado da igreja, como na maioria das pequenas cidades brasileiras, e nem ocupa um prédio histórico da comunidade. Mas basta descer a rua que leva ao Centro Administrativo Municipal para não ter mais dúvidas: a obra chama a atenção pela imponência dos vidros espelhados e pelo gramado frontal. 

O gabinete do prefeito Anildo José Petry (PSD), em segundo mandato, tem quase 50 metros quadrados de área. O salão onde os nove vereadores da cidade se reúnem a cada 15 dias daria para abrigar um baile.

Sem indústrias e com poucas empresas, São José do Sul vive basicamente dos repasses federais do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O prédio da prefeitura foi inaugurado em junho do ano passado e custou R$ 3,5 milhões — 63 vezes mais que a reforma do único posto de saúde de lá, orçada em R$ 55 mil. 

O prédio, acanhado, não tem equipamento de raio-X e nem atendimento de urgência. Os casos mais graves têm de ser transferidos para Montenegro, a 25 quilômetros de distância.

A reportagem do GLOBO constatou que a cidade não tem rede de saneamento básico, apenas dois dos seis distritos onde vive a população rural têm unidade de saúde, e as estradas municipais estão em mau estado. Dos R$ 9,2 milhões que gastou em 2011, a prefeitura dedicou 42,4% para custear a máquina pública, enquanto o destinado para Saúde, Assistência Social e Educação ficou na casa dos 18%. O prefeito diz oferecer serviços que nenhuma outra cidade vizinha oferece à população.

— Nosso centro de saúde tem cardiologista, fonoaudiólogo, psicólogo. Também temos dois dentistas à disposição na rede pública. Além disso, compramos plantões nos hospitais da região caso algum morador necessite de atendimento à noite ou nos finais de semana. E fazemos o transporte. Onde tem isso aqui por perto? — questiona o prefeito.

A população, entretanto, não reclama. A aposentada Isolde Schutz, tem 73 anos e mora há meio século no distrito de Harmonia. Era uma das poucas pessoas que faziam consulta no posto de saúde da cidade na última quarta-feira:

— Não dá para se queixar. Moro aqui há 50 anos e nunca vi o postinho tão bem cuidado.

Mas exames mais complexos não são feitos na cidade. A consulta com um ortopedista, por exemplo, tem uma fila de espera de quase um ano.

— Temos dificuldade justamente nos procedimentos de média e alta complexidade, por falta de médicos e de estrutura. Mas, no resto, somos um modelo para a região — assegura a secretária de Saúde do município, Juliane Bender.

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