O decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, levantou-se de sua cadeira no plenário nesta quinta, a primeira à direita do presidente O que indica sua antiguidade no posto, 23 anos - disposto a deixar claro que não se submeteria a pressões. Quando o esperado seria calar, dispôs-se a dar duas declarações públicas, mesmo estando na condição de proferir o voto de desempate em torno de questão crucial no julgamento mais importante da história da Corte.
Declarou que seu voto estava pronto e que agiria com independência, a partir de convicção formada e sem influência da opinião pública. Foi o mesmo que confirmar as indicações que já dera de que será o sexto voto pela admissão dos recursos que permitem um novo julgamento do grupo de líderes do mensalão. Funcionou como vacina contra pressões externas, após quase quatro horas da dura oratória contrária dos colegas Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello.
Por volta de sete da manhã desta sexta, o próprio Marco Aurélio, segundo mais antigo na Corte, definia, com a habilidade verbal habitual, definia a gravidade da decisão que recai sobre os ombros do colega: "Estamos à beira do precipício em termos de credibilidade".
Em dezembro do ano passado, outra vez a roleta da sorte dos mensaleiros apontou para o decano. Caberia a Celso de Mello desempatar decisão sobre quem teria a palavra final sobre a perda de mandato dos parlamentares condenados. A questão abriu crise sem precedentes entre Legislativo e Judiciário, com lances de bravata de parte a parte. Na véspera da decisão, o ministro caiu doente. Foi hospitalizado, diagnosticado com pneumonia, e o julgamento teve de esperar.
Desta vez, o ministro goza de plena saúde. Aos 68 anos, Celso de Mello cogita em antecipar sua aposentadoria - que seria compulsória aos 70. Encerrará a carreira tendo deixado votos alentados, que formaram jurisprudência na mais alta corte de Justiça do país por mais de duas décadas e que nortearão decisões futuras em tribunais por todo o Brasil. Mas será este voto, o da próxima quarta, o que marcará em definitivo sua trajetória.Christina Lemos
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