O CAMPEONATO DE BAIRROS DE FUTSAL CONQUISTOU OS IPUENSES

                   

                       Crônica de Felipe dos Santos

Um momento em que todo grito é válido. Toda forma de “esperneio”. Qualquer palavra atirada, ao vento, ao árbitro ou para algum jogador. Lotar um ginásio é muito mais que um aglomerado de indivíduos, apertados, curvados, dividindo a atenção no jogo com a as palavras que saiam em forma de grito. 

É implantar em cada um o verdadeiro sentido de sair de casa e correr o mais doce risco de ficar triste ou feliz, mas de ter a certeza da presença de emoção.

O ginásio Abdoral Timbó realizou na noite da última sexta uma retratação perfeita de um desfecho de uma grande festa. Festa que começou no dia 24 de junho. Uma noite que reunia atletas que carregavam seus respectivos bairros nas costas, nos ombros, nos pés. 

Pés que fizeram a alegria de muitos através de gols. Mãos que defendiam o time dos gols, o bairro da derrota. Um campeonato de bairros aflora o patriotismo. Quando o propósito de uma festa é seu lugar, ele deixa de ser único e passa a ser coletivo. Esse coletivo que reuniu 15 equipes nessa disputa.

Portões abertos e cada pessoa que chegava trazia consigo seu bairro, seu lugar, sua morada. Se até quem vive nas ruas tem um endereço fixo, o que se enclausura, então?! Pelo público presente, ficou claro que não se tratava apenas do bairro do corte e do bairro reino de França. E não foi apenas o auxílio da torcida do Boa Vista e dos Camarões (times que disputaram a terceira colocação. BOV 9x4 CAM), foi o prazer de cada representante. Cada torcedor. Cada bairrista.

A decisão colocou frente a frente, Ipuçaba e o Beira Rio. Qualidade em jogadores como Artur, Rogério e Cristiano aliada a juventude de Germano e Carperi. Velhos conhecidos e caras novas. Detalhe que foi notado na torcida. Desde os mais velhinhos, tranquilamente sentados, compenetrados, aos mais eufóricos e jovens, deparando-se com uma festa regida pelo futsal.

No primeiro tempo um zero a zero injusto. Ipuçaba mereceu mais. Mas, como o futebol, até com abola pesada, é norteado pela eficiência, o barulho derrotou o silêncio por goleada. Batucadas, gritos, incentivos. 

Não dá para falar do jogo sem falar da festa, o público. E se o intervalo servia para acalmar os ânimos dos atletas, também destruía a ilusão de quem ali estava. A cada minuto que passava para o fim, eram 60 segundos a menos de festa.

E a alegria começou a ganhar cor, azul e branco. Meados da metade do segundo tempo, Rogério marcou de falta e não hesitou em apontar para o público e voltar o indicador para si: “Aqui está o número 1”. Marra ou realismo? A verdade é que o marrento tem por obrigação ser bom, e não é nenhum pecado o melhor se auto-reconhecer. Alguns deixam isso invadir a cabeça, outros a utilizam para fazer a alegria de uma massa. Cabeceando no canto, Germano fez o segundo gol. Tão incomum quanto um gol de cabeça no futsal, é um goleiro de potencial de Cristiano o sofrer. O número 1? Apesar de ter jogado com a 12, Cristiano conta com uma opinião unânime, o número 1 não evitou o gol de número 2. E quando o jogo caminhava para o final, Artur, que tem uma qualidade única, dividiu sua felicidade com outros tantos após o terceiro gol e a definição do resultado. 3x0.

A festa dos bairros saiu da quadra e invadiu a rua. Deó forrozeiro cantou para os amantes do esporte que circundaram o ginásio. A cada troféu entregue um reconhecimento de um bom trabalho. A cada aplauso, através de cada olhar emotivo, afetivo. O Ipuçaba presenteou o bairro do corte, e o primeiro campeonato de bairros presenteou o município, que viu toda sua

forma fragmentada em massa humana. 

Massa que saiu de casa e sorriu, chorou, encontrou por meio do esporte emoções que não se vendem nas esquinas de uma rua, mas que foram representadas por seus bairros. A festa do povo foi um verdadeiro sucesso.