'A VOLTA DO CACIQUE PETISTA'

A reentrada em cena na semana passada do ex-presidente Lula é a mais nova jogada política do tabuleiro eleitoral de 2014. O cacique do PT veio para defender com “unhas afiadas” sua sucessora Dilma. O movimento tem razões de ser.

Em meio à névoa de incertezas que encobriu a economia brasileira, acirraram-se por esses dias os ataques de adversários – e mesmo dos que se dizem aliados – contra o governo, visando naturalmente às urnas.

A presidenta ainda goza de uma confortável posição nas pesquisas, mas viu recuar os números dos que aprovam sua gestão logo após os movimentos de protestos pelas ruas do País. Na condição de maior vidraça, seria natural e até previsível que Dilma se convertesse em alvo principal, como acabou ocorrendo. 

O fato é que rivais e correligionários desgostosos encontraram nessa fraquejada dos índices de popularidade dela a grande oportunidade para dinamitar suas pretensões à reeleição. Envolvida no dia a dia de assuntos nacionais, sem tempo para o debate ideológico ou direito de entrar numa campanha antecipada, Dilma viu-se acuada. Com histórico traquejo de palanque, Lula saiu em socorro. Realinhou apoios. 

Cobrou engajamento do partido – que foi a público com o aviso “mexeu com Dilma, mexeu conosco”. E tratou de provocar a oposição lembrando que lá atrás foram seus governos que entregaram a inflação fora da meta. A pauta econômica certamente vai dominar o embate político desde já.

Analistas apontam que a sociedade, depois dos avanços conquistados, está em busca de mais e mais melhorias. O emprego, o dinheiro no bolso para consumir e o custo de vida serão os fiéis da balança. Não por menos, Lula focou suas baterias no tema da carestia. Disse ter certeza de que tanto Dilma como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vão batalhar para “extirpar esse mal”. 

Na reaproximação planejada, em evento na Bahia, Dilma lançou afagos ao PT. Disse confiar que o partido terá mais dez anos no poder. Dentro das hostes da legenda, há quem advogue o relançamento de Lula como opção para manter à tona tamanho objetivo. 

Seria, naturalmente, um tiro no pé porque descredenciaria o que foi feito nos quatro anos do mandato da presidenta. O cacique Lula tem a exata noção desse risco e descarta por completo a hipótese. Quer mesmo chacoalhar a turba sem cargo ou compromisso. Por isso voltou.Carlos José Marques/ISTOÉ