ERROS POLÍTICOS CAUSAM QUEDA DE POPULARIDADE DA PRESIDENTE DILMA

                                

A aceleração da inflação é apontada como possível causa da queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT), que saiu de 65% para 57% de aprovação, entre março e junho deste ano, segundo pesquisa Datafolha. 

Mas, para além da alta de preços, cientistas políticos e até aliados ponderam que falhas na condução política e das estratégias de comunicação do Planalto, bem como a antecipação das eleições de 2014, podem ter impulsionado a baixa – por isso, devem servir de alerta.

Um dos problemas é que, ao mesmo tempo em que sofre ataques de adversários que já se colocam como pré-candidatos na disputa do próximo ano, Dilma também enfrenta problemas em sua base aliada – com quem, em tese, ela não deveria ter de se preocupar.

“Dilma vai ter de aparecer mais, se envolver mais no dia a dia da política, negociar mais com os partidos, a fim de evitar atritos. Ela tem medidas legislativas importantes para este ano, como o orçamento da União para 2014, o marco regulatório da mineração. Se você tem os partidos da base brigando, mostra certa incoerência”, opinou o professor de Ciências Políticas David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).

O desafio, conforme avalia um dos vice-líderes de Dilma no Senado, Inácio Arruda (PCdoB), é conciliar a capacidade de negociação política com a base e a austeridade administrativa. “Há uma parte da opinião pública que admira esse aspecto da presidente. Ela não é de ficar o tempo todo posando para foto e sorrindo. 

Acho que o principal é examinar a composição com os partidos. Tá ficando claro o deslocamento de uma parte da base, mesmo que não ainda em torno de Eduardo Campos (governador de Pernambuco do PSB, possível candidato a presidência)”, analisou o senador.

Cautela

Apesar das ponderações, os especialistas ouvidos pelo O POVO pregaram cautela e disseram que ainda não é possível afirmar se o projeto de reeleição da petista está ameaçado. Cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jawdat Abu-El-Haj, ponderou que, mesmo no cenário de inflação, o governo ainda tem instrumentos para alimentar a economia e amenizar os efeitos da alta de preços.

Segundo Jawdat, somente a partir da próxima pesquisa poderá ser feita uma avaliação mais lúcida sobre a percepção do eleitorado sobre a presidente. Isso porque, para o cientista, Dilma é possível que a queda na popularidade após dois anos e meio de governo seja “natural”, já que a petista, até então, apresentava níveis de aprovação “fora do comum”.

A primeira queda de popularidade de Dilma surge a um ano e quatro meses da próxima eleição presidencial. O Datafolha ouviu 3.758 pessoas em 180 municípios, nos dias 6 e 7 de junho, datas posteriores às das propagandas partidárias de siglas adversárias do governo.

Números

O Datafolha também pesquisou a intenção de voto dos brasileiros, levando em conta quatro diferentes cenários. No mais provável deles, Dilma aparece com 51%, oito ponto a menos do que o verificado em levantamento do Datafolha feito em março. Ainda assim, se a eleição fosse hoje, ela estaria reeleita no primeiro turno.

No mesmo cenário, Marina Silva (ainda sem partido) surge estável em segundo lugar, com os mesmos 16% apontados na sondagem anterior.

Depois dela, vem Aécio Neves, com 14%. O tucano foi o único que apresentou variação positiva, com quatro pontos a mais do que o registrado na pesquisa de março. Em quarto lugar na pesquisa, aparece o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também estável, com os mesmos 6% de intenções de voto registrados anteriormente.

A pesquisa Datafolha também simulou a disputa em dois cenários em que Lula aparece como candidato do PT. Em ambos ele aparece em situação mais confortável que Dilma, com 55% das preferências.