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domingo, 24 de março de 2013

O PREÇO DE UMA PAIXÃO; O DRAMA DOS CORINTIANOS PREÇOS NA BOLÍVIA

Por .   Postado  domingo, março 24, 2013   Sem Comentários

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Tudo isso é grave, tudo isso é bárbaro, mas a afronta que remete a um passado sombrio é ainda mais repulsiva diante da quase certeza de inocência dos brasileiros. 

Eles são os 12 corintianos detidos sob a suspeita de participação na morte de Kevin Beltrán Espada, o adolescente boliviano de 14 anos que foi atingido, há pouco mais de um mês, por um sinalizador quando via uma partida de futebol. Provas inequívocas, porém, revelam que as suspeitas não têm cabimento. 

A polícia boliviana já possui elementos suficientes para confirmar a ausência de culpa da maioria dos corintianos presos em Oruro. Se é assim, por que eles continuam detidos? Por que estão sendo torturados? Por que foram abandonados pela diplomacia brasileira? Por que o Brasil virou as costas para eles?

Talvez as autoridades se sensibilizem ao ouvir o relato dos torcedores. O repórter Rodrigo Cardoso entrevistou, por telefone, seis dos 12 corintianos encarcerados (leia os depoimentos nos quadros desta reportagem). Ele conseguiu a façanha graças a uma aberração do sistema prisional boliviano. 

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Dentro da cadeia de San Pedro há um orelhão. Basta discar o número do telefone – e ter a sorte de não ser maltratado pelo boliviano do outro lado da linha – para conversar com os detentos. Isso mesmo. 

Digamos que fulano tenha praticado um crime. Se você quiser falar com ele, é só telefonar. É assim que os familiares dos corintianos matam a saudade e colhem notícias do sufoco que os brasileiros estão enfrentando. 

Nas conversas com os corintianos, sentimentos como tristeza, revolta e, principalmente, pânico revelaram-se à reportagem de ISTOÉ. “Ou a gente mata um ou a gente morre”, diz Danilo Silva de Oliveira, 27 anos. 


Sua maior preocupação são os presos bolivianos, que carregam facas e punhais sem serem importunados pelos policiais. Os brasileiros são odiados e temem um acesso de fúria dos outros presidiários, muitos deles usuários de drogas, que são consumidas ali mesmo, diante de todos. 

Danilo já foi quatro vezes para o hospital. A bronquite, que desde a infância não dava sinal de vida, reapareceu na Bolívia. Além disso, a dor provocada por uma infecção urinária, associada a diarreia, o impede de dormir direito.

Os pais jamais aprovaram a paixão sem limites pelo Corinthians e tentaram convencê-lo a abrir mão da viagem para a Bolívia, que ele planejou por estar de folga no trabalho. “Meu filho é um menino carinhoso, que adora ficar em casa com a namorada e detesta briga”, diz Lucimar Silva de Oliveira. 

Nesse aspecto, ele parece mesmo fugir do estereótipo do monstro que, na visão das pessoas, frequenta as torcidas organizadas. Na certa, há muita gente nesses grupos que só pensa em violência e faz um mal danado para o futebol. Mas há pessoas que certamente não são assim.

O abandono dos torcedores corintianos só não tem sido maior pela ação isolada de algumas pessoas. No caso do Corinthians, dois diretores conversam com frequência com os presidiários na Bolívia. 

No Brasil, o deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP) tem sido uma figura importante para ajudar os torcedores detidos. São-paulino de coração, Feldman, por razões eleitorais ou não, abraçou a causa. 

Há duas semanas, aproveitou uma viagem à Bolívia para visitar os corintianos e ficou estarrecido com o que viu. “Dentro do presídio, as condições são desumanas e está claro o risco de vida que os brasileiros correm”, diz Feldman, que criou um grupo na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para tratar da libertação dos torcedores corintianos. 

Segundo ele, é certo que, no dia 4 de abril, uma comitiva de autoridades brasileiras irá à Bolívia para negociar com a Justiça local a transferência dos torcedores para uma prisão domiciliar. Em Oruro, os advogados de defesa dos torcedores se preparam para impetrar um pedido de habeas corpus. Essa é a nova esperança que alimenta os brasileiros presos.

Quando esteve na Bolívia, Feldman foi alertado sobre o “conteúdo político” da prisão dos corintianos. Seria uma espécie de retaliação ao refúgio dado pela embaixada brasileira ao senador Roger Pinto, da oposição. 

O parlamentar, do partido de direita Convergência Nacional (CN), responde a mais de 20 processos na Justiça boliviana por acusações que vão de corrupção à chacina de indígenas.

Não é exagero dizer que, na maioria dos casos, só sai da cadeia quem paga – caro – por isso. Ou seja: se você, por um azar qualquer, for preso no continente americano, como os torcedores corintianos, o pior lugar para que isso aconteça é a Bolívia. 

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Segundo relatos de diplomatas que acompanham o caso, os prisioneiros estrangeiros são usados, no país, como instrumento de barganha política e, na maioria das vezes, como fonte inesgotável de recursos. “De réus, os corintianos correm o risco de se tornar reféns de um sistema judicial corrupto e falido”, comenta um diplomata veterano.

A senha foi dada na última audiência com a presença dos torcedores corintianos. À saída do tribunal, um diplomata brasileiro foi abordado por um homem boliviano que se identificou como advogado. “Ele me disse que poderia soltar os rapazes”, diz a fonte de ISTOÉ. “Era só uma questão de dinheiro.” Esse diplomata afirma que o sistema judicial da Bolívia funciona como um balcão de negócios. 

Para conseguir que um processo avance na Justiça, é preciso pagar US$ 100. Se o preso desembolsar US$ 400, dá para passar um fim de semana fora da prisão. A sentença mais barata sai em torno de US$ 15 mil, valor que seria cobrado para liberar cada um dos torcedores brasileiros. Uma conta rápida revela quanto custaria, de acordo com o assédio desse emissário boliviano, a soltura dos 12 brasileiros: US$ 180 mil. 

“Tenho certeza de que, se esse valor for pago, os brasileiros voltam para casa rapidinho”, afirma o diplomata. O sistema judicial da Bolívia é tão corrupto que virou piada. 

“A gente chama isso aqui de unboliviable”, diz um funcionário brasileiro, num trocadilho com a palavra americana “unbelievable”, que significa inacreditável. 

Alheios às questões políticas e financeiras, os 12 corintianos esperam que as autoridades brasileiras façam o seu papel, que é o de proteger seus cidadãos enroscados em questões jurídicas, a despeito da inclinação ideológica ou do time para o qual torcem.



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Na quinta-feira 21, a reportagem da ISTOÉ percebeu como a prisão de pessoas inocentes é estúpida e como ela é capaz de causar estragos. J.V. é um garoto esperto de 4 anos, que não quer ir para a escola porque o pai, o motorista Marco Aurélio Nefeire, faz tempo que não aparece em casa. 

Marco Aurélio é um dos 12 corintianos presos na Bolívia. Ele está prestes a ter outra criança: sua mulher, Ivone Rodrigues, está grávida de oito meses. J.V. não é bobo. “Eu quero ir pra Bolívia”, diz o menino. “Tenho medo que meu pai nunca mais volte de lá. Se ele não voltar, eu vou pra lá.” 

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