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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A DIFÍCIL REALIDADE DE QUEM SOFRE COM A SECA

Por .   Postado  quinta-feira, fevereiro 28, 2013   Sem Comentários



Depois de meses, choveu no sítio Mirasul, zona rural de Iguatu, a 384,1 km de Fortaleza, na região centro-sul do estado. Naquela madrugada, a precipitação não foi mais do que uma neblina. Nem deu para fazer água, me diz o agricultor Alcides da Silva, 37, morador do lugar desde que nasceu.
Tivesse enchido a cacimba ao lado da casa, não seria necessário ir pegar água no pequeno reservatório a cerca de um quilômetro dali. Vou fazer o trajeto, junto com Alcides, até lá. 
 Ele me entrega o cabresto de um jumento doado à família por um ex-morador, que desistiu do lugar. Equilibro na outra mão o balde que encherá os recipientes atados ao lombo do animal. 
Embora obediente, o bicho é, ainda assim, difícil de conduzir para quem não tem a tarimba do agricultor, acostumado a fazer isso todos os dias bem cedo desde que a seca esgotou todos os veios d’água próximos.
Pelo menos, àquela altura da manhã, por volta das oito, o sol ainda tem piedade de nós. O percurso, a pé, é acidentado como todo o resto da localidade – aonde só se chega depois de longa estrada carroçável, com plantas secas apertando o caminho. 
Seguimos, a princípio, por leve inclinação, acompanhada de descida mais acentuada. Então, percebo Jupi, o cachorrinho que nos rodeia. Depois, avança e se perde pelas plantas.

Enquanto andamos desviando de pedras, vereadas que conduzem a outras paragens, conversamos. Alcides tem outros 11 irmãos. Todos foram embora. Solteiro, ficou só, na mesma casa, para cuidar dos pais, ambos aposentados. 
Por isso sai pouco de Mirasul. Às vezes viaja à cidade no sábado à noite, quando tem uma festa ou outra, mas, na maior parte do tempo, está por lá, plantando, colhendo, tomando de conta dos passarinhos que tem em sua sala, praticamente limpa de móveis.

Após passar por uma casa abandonada e um cenotáfio, vamos nos aproximando da fonte d’água. Bem ali, Alcides percebe que o jumento, do presidente do sindicato dos moradores, vem no sentido contrário, sendo levado por seu dono.
 O agricultor se aperreia. Toma a corda da minha mão e puxa o bicho a um canto seguro para não haver briga. Com esforço, o presidente arrasta seu animal para longe. E continuamos. O açude é maior do que imaginava. Alcides prende o jumento numa estaca, fincada ali exatamente para esse fim. 
Tenho de colocar os pés na água, ir até uma profundidade segura para encher o balde sem terra. Cheio d’água, pesa tanto que suo para levantá-lo pouco acima da cabeça. O objetivo é despejar o conteúdo, através de um funil feito de garrafa PET, nos tambores de borracha. Demoramos dez minutos em esquema colaborativo.

A volta parece rápida. Nosso périplo atrai os poucos moradores. Uma criança passa correndo, um senhor de chapéu puxa assunto com Alcides, a dona-de-casa de vestido escuro olha para o céu. Um deles comenta: “O doutor não vem mais”. O médico que faz visitas periódicas a Mirasul para consultas e receitas ligou avisando que, naquele dia, não poderia ir.
Ajudo Alcides a transferir para um tonel diante da casa a água, usada futuramente no banho e atividades domésticas. A água de beber é apanhada num poço, prestes a secar e ainda mais distante. Pouco antes de voltarmos, uma senhora conta o sonho que teve naquela noite: um carro-pipa abastecia as cisternas da região. E aquela água era motivo de felicidade, uma intensa felicidade.O POVO

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