TRÁFICO DE INFLUÊNCIA;COMPRA DE EMENDAS PARLAMENTARES

 

“O Maluf é que deveria estar atrás das grades e condenado à prisão perpétua por causa da roubalheira na prefeitura” —  disse Luiz Inácio Lula da Silva, há 12 anos, quando lutava contra Paulo Maluf, de quem ele e o PT hoje se aproximaram. Sempre circularam rumores pelo Congresso a respeito de venda de emendas parlamentares, mas ninguém assumiu a responsabilidade por uma delação. Agora, surge um novo escândalo, graças a gravações com vozes de Isabela Suarez, ex-mulher do deputado João Bacelar (PR-BA), e de Lílian Bacelar, irmã do parlamentar. Lílian trava batalha judicial com o irmão deputado pela partilha da herança do pai e gravou conversas do mano com Isabela. A ex-mulher de Bacelar discorre, nas gravações, sobre um esquema operado por Bacelar. Diz ela que ele compra emendas dos colegas. Isabela chegou a dar detalhes para Lílian dos negócios de Bacelar, afirmando: “Desse cara do PT com certeza ele compra emenda. O nome dele é Geraldo alguma coisa. Federal da Bahia. Se procurar, na hora você vai achar: Geraldo. Com certeza. Com certeza. Eles operavam com o filho dele. Na bancada do PT baiano há um único deputado chamado Geraldo. O nome completo é Geraldo Simões. 

A conversa de Isabela tem um conjunto de e-mails trocados pelo deputado João Bacelar. Na tal tabela, aparecem, estão os nomes de sete municípios baianos que receberam verbas da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba). São recursos originários de emendas ao Orçamento da União. Cada município surge no documento com uma cifra e as iniciais de cinco autores de emendas: GS, FS, FB, MM e FF. Dessas siglas, apenas FF não foi identificada. No caso das demais, não foi difícil descobrir os donos das siglas: GS é Geraldo Simões (PT-BA). JB é o próprio João Bacelar (PR-BA), MM é Marcos Medrado (PDT-BA) e FF é o deputado Fernando Fabinho.

 Os parlamentares negam que tenham cometido irregularidades. É tradição que os deputados apresentem emendas em favor de municípios das regiões onde recebem votos. A maior parte dos recursos foi enviada para municípios das áreas eleitorais de Bacelar, não dos autores das emendas. Em cinco dos sete municípios mencionados, o deputado João Bacelar ocupa o primeiro lugar ou o segundo entre os mais votados nas eleições de 2010. O troca-troca. Há exemplo incontestável. Em cima da sigla GS (Geraldo Simões), está Cidade Nova e a verba de R$ 3 milhões. Procurada, a Codefasv confirmou a emenda e seu autor (Geraldo Simões), o valor e o município citado. Convém lembrar que, em Casa Nova, Bacelar conquistou 7.599 votos e Simões, o autor nominal da emenda, apenas quatro. João Bacelar é herdeiro de uma construtora, a Embratec. Acredita-se que as verbas são enviadas para prefeituras que contratam a empresa da família de Bacelar para realizar as obras. 

Em uma das conversas gravadas pela irmã Lílian, a ex-mulher Isabela Suarez revela a razão por que existe esse comércio de emendas: “Época de campanha política, neguinho está sem dinheiro. Aí, pega um deputado que esteja mais capitalizado. Como ele (Bacelar) tem construtora, aí vende as emendas para ele antecipadamente com o compromisso. Aí, ele vai para lá e aporta dinheiro na campanha do cara. Aí, quando ele entrar no mandato, vai lá e paga as emendas. Quem negocia emenda, todo mundo sabe. Ele deve negociar emenda com todos os deputados. Porque o cara precisa disso para poder financiar sua campanha”. 

O caso de Bacelar não é único. Em 2011. Os ministérios do Turismo, do Trabalho e do Esporte estiveram sempre nas manchetes dos jornais em escândalos sobre desvios de emendas parlamentares que destinavam verbas públicas para ONGs. Claro que não é toda emenda parlamentar que envolve corrupção, mas quase toda corrupção na capital federal envolve emendas. Os parlamentares costumam, em sua maioria, servir aos interesses dos grupos políticos e econômicos que os ajudaram nas campanhas eleitorais. Há ainda a necessidade de preparar o caixa da próxima reeleição. E é isso que termina levando os parlamentares a se envolverem em um jogo de interesses que não tem fim.jb